Poesia em toda parte
Mesmo nos piores momentos é possível encontrar poesia. Ainda que a ignorância e a truculência tentem, jamais poderão impor-se à poesia que há na vida, e por isso a vida vale mais que a morte. Ocorre-me esse juízo, ao ler o texto que Miguel Paiva publicou na Folha de São Paulo, edição da última quinta-feira, sob o título Somos todos maricas. Um texto que põe a nu, ainda que abundando sem prejudicar, o que se tem visto, ouvido e experimentado nesse tempo tão abrutalhado que vivemos. Letras e vozes como as que Paiva transmite para mostrar sua indignação, nem sempre conseguem despertar no espectador, olhos ou ouvidos atentos, a importância da poesia, para a manutenção da vida, mesmo quando isso não passa de lenitivo, em especial quando dezenas de milhares e famílias brasileiras choram a perda de entes queridos. Se o texto de Miguel Paiva não se presta a devolver as vidas ceifadas ou reduzir a fúria dos ceifadores, serve à melhor das causas pelo que de humano têm: a denúncia do crime e a beleza poética de viver.