Mais que ingenuidade e desatenção, imaginar o encontro de grupo humano em que só haja virtudes corresponde a supina ignorância. Sabe-se, não é de hoje nem recente, que mesmo do Paraíso foi expulso um tal Lúcifer, anjo reconhecido até sua exclusão das hostes celestiais. Talvez os pessimistas ou niilistas digam estar nele o modelo a cuja imagem e semelhança obedecem os homens. Permito-me discordar, sem ir ao extremo que só a mais abissal e endurecida ignorância justificaria. Daí minha hipótese de que, do nascimento à morte (por covid-19 também) o ser humano é acompanhado por dois seres invisíveis, ambos instalados em sua mente. Deles é que vem a orientação para a conduta de cada indivíduo, respeitadas as circunstâncias de que já falou com propriedade Ortega y Gasset. Dotado do livre arbítrio de que supostamente todos somos dotados, resta-nos dar ouvidos e boa recepção a um dos dois seres, invisíveis e inspiradores. Nem todos escolhemos a mesma fonte de nossas inspirações. É aí que reside, no meu fraco pensar, a maravilhosa diversidade encontrada a andar sobre as duas tradicionais patas traseiras. O certo é que, a prevalecer o criacionismo, seria fatal fazer do uso de todas as nossas faculdades um fator de igualdade. Isso anularia o livre arbítrio, e acabaria por fazer de cada ser humano um robô confeccionado por um deus malvado, punitivo, cujo poder se basta na uniformidade que empobrece qualquer ambiente. Então, a sociedade é a grande construção do homem, acredite este no criacionismo ou se tenha como descendente do pitecanthropus erectus. Tais considerações ocorrem-me, diante da verdade que alguns pretendem absolutas, identificando não o que se chama humanidade, mas certa organização como abrigo e hospedeira exclusiva de toda a pureza do Mundo. Mais grave, ainda, quando esse hotel das maravilhas terrestres tem a seu dispor artefatos de guerra a que à grande maioria ds pessoas não tem acesso. Dito em outras palavras, diabinhos que induzem a erro são encontrados em penitenciárias, escolas, empresas e onde quer se instale um grupo humano. Nesse ponto, cabe dizer quão equivocados estão os que se sentem incomodados se alguns de seus camaradas são pegos com a mão na botija. Pior, se chamam para si mesmos a podridão atribuídas àqueles. Não tenho como esquecer a expressão de um oficial superior do Exército de que me aproximei, por motivo profissional, no início da década dos 1970. Participante ativo do golpe de 1964, nem por isso ele fugia à conversa amena e agradável com os que dele se aproximavam. E olhe que tinha integrado o grupo de militares que investigou a vida dos acusados de subversão. Certo dia, perguntou-me onde eu morava. Informei onde e, ao ser indagado da satisfação em morar ali, respondi que a proximidade de inúmeros quartéis me dava a sensação de segurança. Calmamente, mas com esgar flagrantemente irônico me responde: você tem razão, porque os ladrões estão lá dentro. Quase caí, com a resposta surpreendente. Eu não tinha como pensar que ele estava apenas sendo leviano, tanto ele sabia das coisas.
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Os ladrões estão em toda parte, mas os verdadeiros traidores da Nação estão lá dentro.