Sinto mau cheiro no ar. Não o da fumaça que continua a envolver as cidades, mas a exalação de odores próprios à matéria podre que costuma empestear o ambiente, rotineira no que chamamos mundo dos negócios. Desta vez - mais uma - a Potássio do Brasil anuncia o início de obras de unidade de beneficiamento, às proximidades de aldeias mura. Ora, se o assunto permanece sub judice e a empresa inicia investimentos de alto custo, ela tem certeza de que nada, nem ninguém, a impedirá de alcançar os objetivos pretendidos. Ou seja, sabe contar com a leniência, se não a cumplicidade, de pessoas influentes nos poderes ditos republicanos. No caso brasileiro, como de resto no mercado, onde tudo se compra e tudo se vende, essa tem sido tragédia anunciada. Mesmo se, com espantosa frequência, chega-se a pensar que a corrupção conta com unânime hostilidade. Ao que se sabe, 333 teriam sido as condicionantes ambientais impostas à Potássio do Brasil. Dentre elas talvez muitas iguais ou equivalentes às exigidas de outros negócios, de que Brumadinho e Belo Monte nos dão conta. Não são apenas os mura portanto, nem só os poderes republicanos que estão emparedados. Mandam a experiência e a prudência agir o quanto antes. Mínima que seja a probabilidade de evitar os males necessários à manutenção do poder do capital, a ação permanente e resistente é o mínimo que se tem a fazer. Diferente disso, haverá a simples e desejada cumplicidade.
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