Atento às palavras, a leitura de pronunciamentos orais ou escritos sobre a realidade brasileira me leva a conclusões pouco lisonjeiras a grande parte dos meus contemporâneos. Uns deliberadamente, outros, por desinformação, parecem ignorar o sofrimento da maioria da população, com ou sem pandemia. Existe, é inegável, certo tipo de ignorância cultivada, a que tenho chamado de ignorância por opção. Para os que se orientam por essa forma de perversão, importa pouco – ou nada – que a fome continue matando, neste país que ninguém negaria ser demasiado rico. À riqueza de que somos detentores, no entanto, corresponde a pobreza generalizada, a que escapa exatamente a minoria que dela se apropria. Seja por ação em todo caso comprometedora do futuro (às vezes, do próprio Planeta), seja pela acumulação baseada na exploração do suor e do sangue do outro, aquele no qual residem todos os vícios – o pior deles, a pobreza. Sim, porque entre nós ser pobre é fatalidade decretada pelos falsos deuses em que creem os afortunados. Pois esses mesmos afortunados vivem a clamar contra o que consideram excessiva carga tributária, em oposição a toda comparação com outros países, ao mesmo tempo em que reivindicam cada dia mais favores fiscais. Sabem, e não apenas pelos livros, nossa posição no ranque da carga tributária e da devolução, em serviços e direitos, pelo Estado aos que estão nas faixas socioeconômicas da base da pirâmide. E, sem o menor pudor, lutam por ver desmontada a máquina pública de prestação de serviços, sem a qual menos eficiente ainda seria a qualidade dos serviços oficiais. Fingem sequer não ver ou imaginar o que seria o combate à pandemia, a que o SUS tem dado a mais importante e efetiva resposta. Ademais, esquecem propositalmente o avanço experimentado em países vizinhos, alguns dos quais empenhados em impor tributação sobre as grandes fortunas. No caso do Brasil, o engajamento dos integrantes do topo da pirâmide deveria ser até maior, dada a contribuição do dinheiro público para o processo que os elevou àquela posição, dentre as diversas faixas socioeconômicas. Tem-se falado muito em reforma tributária, raramente para tornar mais justo o sistema em vigor. A pretensão, nem sempre suficientemente escondida, é a de reduzir o que chamam tamanho do Estado e tirar dos que não têm para aquinhoar com crescente generosidade os que tudo e de todos tomam.
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