Plágio incômodo

Comentei, antes, sobre a ameaçadora nota dos comandantes militares, reverenciando o golpe de 1964 e espocando foguetes pela prática da tortura, do assassínio e do desaparecimento de tantos dos nossos irmãos. Isso tudo, em meio a tantas outras mentiras, uma espécie de certificado de legitimidade dado às agressões cometidas contra a democracia, a Constituição em vigor e a sociedade brasileira. Algo semelhante ao coroamento de um período dos mais trágicos de nossa História. Tudo fazendo muito sentido, desde que se tenham ouvido as imprecações costumeiras do Presidente-em-Chefe, ao longo desses pouco mais de três anos milenares de mandato. Ademais, percebo posteriormente à primeira leitura de tão lamentável peça, outros sinais que não podem ficar ao largo das preocupações dos brasileiros que abominam a ditadura, qual seja a forma que ela apresente. Mais uma vez, socorre-me a memória, essa capacidade que todo tirano sempre imagina capaz de suprimir. Não é o caso. Daí ver sinais de plágio no documento que militares da ativa subscrevem, em flagrante e grosseira afronta à Constituição. Num certo sentido, o documento replica a ameaça feita pelo general Villas-Boas, às vésperas das eleições de 2018. Se há algo diferente, a diferença está na precocidade com que a tortura, o assassínio e o desaparecimento de brasileiros são festejados. Seis meses nos separam das eleições, mas as esperanças gestadas no coração da maioria dos brasileiros devem ser abortadas. Esse o conteúdo implícito da nota oficial, constitutiva ela mesma de certa forma de desvio dos recursos com que o contribuinte e cidadão brasileiro participa das ações governamentais. É mais do que passada a hora de a oposição, mais débil, comprometida, covarde ou indiferente que seja, afiar tesouras. Unhas ameaçadoras preparam-se para cumprir a missão que as inspira. Outra circunstância esclarece dúvida que alguns ainda mantinham: de que lado estão os militares? Essa é dúvida que se desfez.