Pilantropia X Pilantragem

Caminhando para 350 mil mortos pela covid-19, somos forçados a testemunhar mais um golpe. Deste vez, como de tantas outras, maquinado e processado no Congresso Nacional. Face à escassez de vacinas, a capacidade da rede de imunização mantida pelo poder público inclusive nos mais remotos lugares do País, vem sendo subutilizada. Poderíamos chegar à imunização de hum milhão de brasileiros, a cada dia, porque assim tem sido, desde quando ao SUS é permitido agir sem a hostilidade dos que deveriam colocar-se ao lado do Sistema. Lá atrás, foi cavado o fosso entre a capacidade do sistema de saúde pública e as necessidades da população. Estamos ameaçados de nova onda de contaminação, e ainda há quem tente sabotar o Programa Nacional de Imunização, incumbência de que o SUS se mostra em condições de operar. Para os que a ele se dedicam, hoje como ontem, tarefa farta e positivamente experimentada. A reivindicação de certos empresários, em tudo assemelhada ao estabelecimento de privilégio e crime, busca obter para suas empresas o direito de comprar vacinas. Apresentam-se como filantropos dedicados à causa pública e atentos às necessidades da população. Dentre eles, vá-se ver, haverá muitos fregueses de caderninho das juntas trabalhistas espalhadas pelo País e inadimplentes junto aos sistemas previdenciário e tributário nacionais. Candidamente, como costumam agir os mais notórios pilantras, desejam simplesmente furar a fila. Se desejassem de fato prestar o serviço devido à sociedade que os fez, faz e mantém ricos, bastaria adquirirem as vacinas e doa-las todas ao Plano de Imunização. Não é o que reivindicam, com a cobertura de detentores de mandatos que dizem populares. Votos colhidos de muitos que perderam pais, irmãos, cônjuges, filhos e outros parentes e amigos. É sempre o interesse meramente monetário (porque nem econômico chega a ser, diante do que se tem visto) prevalecendo sobre o direito à vida. Filantropia não é o mesmo que pilantropia.