Per omnia dies*
Para os médicos, onde estejam
Junto-me aos
noventa e quatro
imolados na Itália
e aos outros de que
sequer sabemos
açoitados pelo vírus
Permaneço
isolado no mundo
moído na máquina
atroz do egoísmo
lubrificada pelo óleo
da ganância
a usura afiando
suas engrenagens
Tenho forças ainda
para saudar
os que de minha saúde
cuidam
desdenhando da sua própria
nos laboratórios
onde as máscaras protegem
as nossas vidas
não a deles
onde a ciência esquecida
desdenhada agredida
de onde
virá o alívio
curativo de nossos
males
virá também
primeiro como vírus
insidioso sorrateiro
envergonhado talvez
capaz de enredar-se
nas mentes
instalar-se nos corações
impregnar todas as mãos
enxaguar todas as bocas
abrir olhos obliterados
narizes inodorados
ouvidos moucos
bocas presas de tenaz
acidez
pele impermeável...
Depois, a esperança
de proclamar este
dia
fazendo-o mais que dizendo
praticando-o mais que declarando
palavras feitas ações:
o Dia Mundial da Saúde.
Per omnia dies!
* Do editor, José Seráfico.