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Paspalho

Não se poderá considerar menos que um ato de paspalhão a primeira reação do governador do Pará, Hélder Barbalho, quando o Amazonas vive a pior tragédia de sua História. Agora, a recusa em receber pacientes açoitados pela ferocidade do vírus e dos vermes que a ele se associam para matar quanto juntos puderem, é gesto que supera o sufocamento do passado por tropas despachadas da então metrópole. Éramos (ao Pará me refiro), a então capital da Província. Mesmo decorrido tanto tempo, se as antigas unidades do Império se transformaram em Estados republicanos, as mentes nem sempre acompanharam esse movimento. Daí as soluções como a que tem tomado o governo federal e - sabe-se lá por que razão - o governador eleito pelo povo para governar o Pará. Ainda bem que sempre é tempo de recuar. Foi o que fez Hélder, espera-se que aconselhado pelos que não se arriscam a aventuras suicidas, guardando dentro de si o que ainda pode restar de magnanimidade, tolerância e sensibilidade diante do sofrimento alheio. Em artigo publicado em O Liberal (União ao invés de ódio, 17-05-2005) adverti sobre os riscos de cultivarmos hostilidades e ódio, ao invés de companheirismo e união. À reação inicial do governador paraense seguiu-se a oferta de 30 vagas para pacientes oriundos do Estado do Amazonas, nos leitos sob o controle da administração pública da saúde do vizinho Estado. Mea culpa que precisa ser repetida, em palavras, gestos e decisões, todo dia, para todo o sempre. O inimigo não é o Estado vizinho, muito menos seu povo, mas os que, mesmo dentro de ambos os territórios (como de toda a nação)entendem a guerra apenas como exercício propício a gerar mortalidade, não de combate a esta. A solidariedade e o amor ao próximo são as melhores e mais eficientes armas, se desejamos viver em paz.

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