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Palco e cadafalso

Aproximam-se as eleições municipais e não se vislumbra qualquer sinal que a mostre diferente de todas as que as antecederam. As alianças tecidas entre as legendas revelam quanto de surreal tem a política brasileira. Também deixam transparentes as motivações que atraem alguns cidadãos para a disputa eleitoral. Raríssimos os casos em que se encontra algum motivo de aperfeiçoamento da claudicante democracia em que vivemos. Novas ideias e propostas não surgem, simplesmente porque não é isso que provoca e desafia a maioria dos candidatos. Uns, apenas servindo de escada para os que algum dia lhes prestaram algum favor (não raro à custa dos bons costumes e da moralidade pública), outros espelhando-se nos que ainda não se fartaram de enodoar a democracia e agredi-la, quando - e se - lhes surgir a oportunidade de (re)fazê-lo. Mesmo em muitos dos que trazem na face e no registro civil vida ainda jovem, constata-se a mente povoada por conceitos e orientações tão avelhantadas quanto a dos demais que os lideram. Por isso, os procedimentos e condutas dos mais experimentados, contumazes em suas más ações, em nada diferem daqueles que só agora se apresentam na disputa. Se há um espaço em que o mercado se exerce em toda a plenitude, esse pode ser identificado no momento em que as chapas são constituídas. Não havendo fidelidade a princípios e valores que aproximem os companheiros de (infeliz) jornada, tudo se resume ao mais vil e mesquinho jogo de interesses. Menos, é claro, àqueles que dizem respeito às carências a que estão condenados os mais pobres. Exatamente aquela porção, majoritária se sabe, da população sem acesso aos bens e serviços que, de fato e ainda não de direito, por eles mesmos terão sido construídos. Há várias moedas envolvidas nesse trágico e espúrio jogo falsamente anunciado como democrático. Nele tudo se diz e tudo se faz, desde que a preocupação quase única seja a de proporcionar a alguns a oportunidade de repetir decisões, ações e gestos que, executados por outros, têm merecido sua indignação, hostilidade e condenação. Perde-se, dessa forma, qualquer possibilidade de aperfeiçoar a democracia, embora o discurso inconsequente e falaz seja cercado do cenho maldosa e cuidadosamente confeccionado, no mais perverso dos teatros de que se tem notícia. O cenário não ocupa os palcos onde as boas peças são encenadas, mas o cadafalso onde as esperanças sentem o peso da guilhotina.

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