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Palavras e gestos o vento desfaz

Foto do escritor: Professor SeráficoProfessor Seráfico

Nem sempre a negligência dos órgãos de investigação consegue esconder ou concorrer para o sepultamento dos delitos, nas sociedades em que é escasso o sentimento de cidadania. É frequente, por isso, serem desvendados os ilícitos praticados ao abrigo dessa conduta ofensiva a qualquer grupamento humano, ainda mais quando ele se pretende uma república democrática de Direito. Como a que alardeamos ser a nossa. A cumplicidade da qual resultam a certeza da impunidade e o prejuízo à maioria dos cidadãos, contudo, se promove o acumpliciamento dos delinquentes e a criação de mecanismos aparentemente inexpugnáveis, não consegue apagar circunstâncias essenciais ao esclarecimento dos fatos. Daí que as brigas intestinas (aqui vale relacionar os atos e fatos às vísceras dos animais, o dito inteligente inclusive) substituem as instituições, facilitando ou provocando a emersão do que parecia condenado ao fundo mais profundo dos mares. Algumas vezes, quando vêm à tona, os fatos reafirmam e fortalecem a veracidade do que alguns antes viam como mera especulação ou preconceito. O aliado e cúmplice de ontem passa a ser visto como adversário, tamanha a voracidade dos que se entregam a saquear os cofres onde se guarda o patrimônio comum. O favor de ontem, abrindo o crédito da gratidão logo revela a índole e, em muitos casos, a vocação dos membros do mesmo grupo. As práticas de benfeitores e beneficiários sendo as mesmas, pode-se concluir que os semelhantes se atraem. Quando isso é descoberto, bom seria que pagassem uns e outros. Na impossibilidade, melhor é atentar para as relações criminosas mantidas pelos agentes, até que um deles provoque o cisma. É mais ou menos disso que tratamos, quando todos os meios de comunicação divulgam a prática das rachadinhas, desta vez pelo Presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, ex-Presidente da mesma Casa, um dia chamada Alta. Nem por ser mera imitação de prática imputada ao Presidente da República e sua descendência, o assunto deve passar em branco. Afinal, sendo cedo para firmar convicção – favorável ou contrária ao suspeito de agora -, não o é, nem inoportuno, exigir dele as explicações e provas que o mostrarão apenas vítima de perseguição. Neste caso, de quem o fez presidir o Senado. Cenhos cerrados, gestos histriônicos, voz tonitruante não bastam para desfazer qualquer eventual equívoco a respeito da conduta dos homens públicos. Da mulher de César era exigido muito mais. Que o seja, também, tantos séculos depois, dos agentes públicos brasileiros, seja qual for o palácio em que se instalem. Todos eles, os palácios, mantidos com o suor (às vezes, o sangue) dos brasileiros.

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