Palavras e ações
Professora da então Escola Brasileira de Administração Pública - EBAP/FGV dizia aos alunos: o homem não vale pelo que sabe, mas pelo que faz com o que sabe. Outros têm dito algo semelhante, mas significativamente mais abrangente: não são as palavras que revelam o homem, mas suas ações. De nada adianta o discurso mais eloquente, recheado de belas figuras de retórica, se os atos do orador não correspondem à sua prédica. A grave crise política e institucional que experimentamos, desta vez não tem sua origem nos arraiais derrotados pelas eleições de 2018. Ao contrário, e de forma surrealista, é da sede do poder central que emanam as maiores ameaças à tranquilidade pública e à paz social. Por isso, deve preocupar a todos o crescendo em que se opera o desmonte do aparato institucional a que corresponde a república. No mesmo sentido, a obediência irrestrita aos ditames constitucionais, só eles capazes de deter a marcha insana que apressa os passos, pode ser exigida. Não se trata, simplesmente, de exigir que cada poder faça o que muitos, em pobre perspectiva, entendem ser "sua parte". A parte a que reduzem os simplistas as funções dos poderes constituídos e à qual todos - Executivo, Legislativo e Judiciário - estão submetidos, encontra-se claramente estabelecida no artigo terceiro da Constituição. É, portanto, com base nos objetivos da República Federativa do Brasil que o Presidente da República e seus auxiliares diretos, o Congresso em suas duas casas parlamentares e o STF e demais instâncias do Judiciário devem buscar a consagração da autonomia e, concomitantemente, da harmonia que lhes é inerente. Fora disso, não se terá mais que a ruptura institucional, estranhamente sob o risco de realizar-se.
De tal sorte o momento é grave, que mesmo palavras de compromisso com a manutenção da claudicante democracia quase não geram mais - nem menos - que inquietação nos que as ouvem. Não se diga que tal interpretação revela certa tendência conspiracionista, como tem sido costume classificar a menor discordância em relação ao poder. Os que têm boa memória e o mínimo de capacidade de interpretação de palavras, gestos e ações louvam-se, para ver alimentados seus temores, na conduta remota ou recente, de muitos que asseguram, por palavras, o respeito à democracia, à república e à Constituição. É aos que não se esforçam por desfazer a impressão anterior que cabe a conduta pessoal e institucional capaz de remover as incertezas. O resto, o vento leva. Levando na sua poeira os sonhos e as expectativas de toda uma nação.