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Pátria armada, fuzil!!!

Parece-me quase esquecido dos estudiosos um traço marcante da complexidade da vida social. Da nossa, particularmente. Refiro-me à contradição entre o discurso e as práticas das lideranças políticas. De contradições se nutre a sociedade, e em meio a elas desenvolvem-se o equacionamento e a solução dos problemas enfrentados. Uma coisa é dita, outra é a ação, nem sempre guardada a mínima coerência entre elas. Pior seria uma sociedade em que as contradições não emergissem. Sequer haveria qualquer possibilidade democrática, se assim não fosse. É das sociedades democráticas, porém, a exigência de alto grau de coerência entre o dito e o feito. Menos como demonstração de virtudes – tão escassas estas se revelam – dos protagonistas, mas sobretudo como satisfação devida à sociedade. A parte que apoia os decisores, tanto quanto os que deles divergem. Afinal, razões não costumam faltar a qualquer dos lados. Sempre haverá os satisfeitos e os irresignados. Assim ocorre nas melhores democracias, ainda o pior dos sistemas políticos, salvo todos os demais já experimentados. Nunca é demasiado lembrar Winston Churchill. Pois bem, a contradição a que agora dou atenção diz respeito às críticas exaustivamente divulgadas à mobilização que o Coronel Hugo Chávez fazia na Venezuela. Os golpistas brasileiros de sempre não poupavam o tosco líder, nem os que aparentavam a mínima tolerância à aventura por ele liderada. Alguns representantes da direita ensandecida chegavam a revelar seu escasso nível de conhecimento e discernimento, recomendando a transferência dos que pensam diferente deles para o país vizinho. Sequer tinham condições de comparar, porque para isso seria necessário deter informação, a mínima que fosse. Ajudemos esses pobres de qualidades, não importa o tamanho de seu património físico. 1. Hugo Chávez, coronel da ativa invadiu a sede do Parlamento venezuelano, arma na mão, porque desejava fecha-lo. Aqui, o quase-capitão era levado a julgamento por seus pares, por envolver-se na pretendida explosão da fonte de abastecimento de água do Rio de Janeiro. 2. À denúncia do caráter fascista de seu governo, o Presidente da República brasileiro promove motociatas (além de outras ciatas) inspiradas em desfiles liderados por Mussollini, o líder do fascismo italiano. 3. Eleito graças à restauração da democracia no País, o Presidente brasileiro volta-se contra o sistema que o beneficiou – seja pela leniência (foi só isso?) da Justiça especializada, seja pelo processo eleitoral seguro, a que se liga o uso de urnas eletrônicas.

Passo a passo, a democracia é todo dia corroída, inclusive com as facilidades proporcionadas às milícias, tão prósperas aqui quanto o foram no Haiti sob François Duvalier, o Papa Doc de lá. Em resumo, fazendo-nos dignos da Pátria armada, fuzil!

A frustração de um de seus sonhos mais explícitos (a morte de pelo menos 30 mil brasileiros, sob a tortura tantas vezes louvada por ele) foi fartamente compensada, bom uso feito da pandemia. Cegos que não querem ver; surdos com ouvidos sadios aonde não chegam os sons da vida; cristãos a que desagrada a pregação de Jesus – compõem os menos de 40% dos votos válidos que teclaram o número 17, nas urnas eletrônicas de 2018. Nada disso desperta a atenção dos seguidores, os ratos modernos de Hamelin.

Pobre Pátria, aquela em que o fuzil importa mais que o feijão!

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