Os arruaceiros que praticam sua delinquência à porta dos quartéis têm sido geneticamente chamados de patriotários. Por mais jocosa e sugestiva, a expressão traz vício próprio de toda generalização. Na verdade, dos grupos de acampados participam pessoas movidas pelos mais diversos interesses. Os próximos dias começarão a deixar mais claros essa diversidade de interesses e suas motivações. Muitos desses delinquentes terão perdido um ente querido infectado pela covid-19. Outros viram a participação na prática criminosa como um biscate. Desempregados, perceberam quanto lhes poderia render ajuntar-se aos baderneiros. O almoço e uns trocados, assegurados pelos que não põem a cabeça a prêmio, não seria algo a desprezar. Diante disso, um juízo minimamente arrazoado não os considerará otários. Os que os pagaram, facilitaram a baderna, acolheram-nos e protegeram a arruaça - esses, sim, são os otários. Por enquanto, porém. Não demorará, tanto esses quanto às vítimas de sua solércia e torpeza estarão rendidos aos encantos do poder. É tudo - ou quase - uma questão de preço. Talvez otários sejam os que não conhecem bem o caráter e os interesses a que serve esse tipo de gente (se é que se pode dela dizer assim), preferindo defender a democracia e o Estado de Direito. Mesmo sem terem perdido qualquer parente ou amigo pela falta de oxigênio. Ainda que o desemprego e o trabalho precarizado sejam situação que nunca experimentaram. Se pudéssemos manter gravada na memória a imagem dos delinquentes de porta de quartel, não tardaríamos a vê-los cortejando os governantes e lhes pedindo favores. Antes, as vivandeiras dos bivaques que batiam à porta dos granadeiros (como dizia o general Humberto de Alencar Castelo Branco) faziam-no mais às claras; agora, dispõem de prepostos. Para isso, juntam-se ao desemprego, a fome, a carência educacional, a falta de habitação, as doenças e, não sei em que proporção, a absoluta falta de vergonha. Alguns chamariam espírito cívico. Há, portanto, variados graus de otário. Inclusive os que apenas simulam.
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