Os Bragança de hoje
- Professor Seráfico

- 17 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de abr. de 2023
Parece incrível! Não, porém, se tomarmos os tempos atuais iguais ao do que fez nascer o surrealismo. Na verdade, o Brasil sempre atrasado em relação aos avanços socias registrados em outros lugares, esmerou-se tanto, que a criatividade de Salvador Dali e André Breton hoje se sentiria humilhada. Ainda não de todo superada, a escravidão mostra sua face perversa, ameaçando nossos irmãos trabalhadores. Deste feita, não apenas sob o som de taças de vinho a tilintar em rimo de trágico hino. Em todo caso, uma saudação triste deve ser levantada, porque sem as atrocidades cometidas por produtores de finos vinhos, em cidade gaúcha, permaneceriam escondidos os abjetos propósitos de uma elite quem nem 700.000 mortos satisfazem. É preciso humilhar, explorar, extrair o suor e o sangue de mais gente, até que se satisfaçam - se é que um dia isso ocorrerá - os apetites de monstros que aparentam humanidade. Agora, todavia, torna-se mais difícil manter o silêncio, porque, minoritários e hesitantes embora, os meios de comunicação põem a perder os exploradores de sempre. Bom (!) exemplo dessa regressão no tempo nos é dada pela pretensão de deputados liderados por um dos descendentes da dinastia bragantina, de fazer a História recuar ao ano 1877, quando a Princesa Isabel ainda não havia aposto sua assinatura na chamada Lei Áurea. Nestes tempos de tragédia, não faltam representantes ditos populares na lista de assinantes da PEC subscrita em primeiro lugar pelo deputado Luiz Phillippe d'Orleans e Bragança (PL/SP). Já são 66 os colegas do descendente imperial, dentre os quais se encontra numeroso grupo de dois partidos (PL e PP) cujo ideário conservador na verdade esconde tendências autoritárias e antiquadas. No extremo, ideias avessas ao próprio processo civilizatório, tão afeitos os que as defendem e propalam com os costumes e vícios da barbárie. Não é estranho, por isso, vermos darem-se as mãos representantes das bancadas da Bíblia e da Bala. Não da Bíblia como a fizeram os grandes sacerdotes do povo hebreu, os evangelistas e os mais lúcidos reformadores da Igreja, mas modernosos intérpretes inspirados pelo que o bispo Basílio da Antióquia chamou o esterco da sociedade - o dinheiro. Nem da bala dos bacamartes, mas a que sai de sofisticados instrumentos da morte, tidas por gente de tal jaez como os mais desejados traços de civilização. Não faltam, na execrável lista, representantes de unidades federativas da Amazônia, exemplificados por enquanto pelo Capitão Alberto (AM) e Delegado Caveira (PA), ambos do apelidado Partido Liberal. Outros militares e policiais juntam-se dentre os assinantes, como divulgado. A PEC pretende, em resumo, devolver-nos ao regime escravocrata, por enquanto impedido de restaurar-se. A extinção da Justiça do Trabalho e da ação fiscalizadora dos órgãos especializados (Ministério Público do Trabalho, em especial) não significa coisa diferente da legitimação de práticas como as registradas nas vinícolas gaúchas e em outros lugares do País.

Dom Pedro II deve estar se revirando no túmulo...