Os alvos de Bolsonaro
Atualizado: 29 de Nov de 2019
Marcelo Seráfico*
Os trabalhadores do país conseguiram resistir ao projeto neoliberal por 40 anos. Quando ele faz água em outros cantos, como Chile e Argentina, aqui e na Bolívia ele ganha força pelas mãos do neofascismo. Num certo sentido, a única possibilidade de manutenção do neoliberalismo global depende de regimes autocráticos. O detalhe é que esses regimes se legitimam numa combinação singular de golpes parlamentares com eleições mais ou menos regulares. Um e outras são momentos da guerra híbrida travada contra os trabalhadores. Trata-se de uma guerra da classe dos muito ricos contra os muito pobres! Uma guerra que tem como pressupostos, primeiro, a desumanização dos pobres por meio de uma ideologia que os converte em responsáveis individuais pela condição de pobreza; e segundo, pela transformação dessa ideologia em visão de mundo de suas vítimas. É a sofisticação da barbárie, pois para que tal processo vingue todos os preconceitos que circulam na sociedade são mobilizados e usados como se fossem explicações plausíveis da realidade.
Estamos vendo uma parte expressiva dos cidadãos apontar aquela "arma de mão" que se tornou símbolo da campanha do presidente contra a própria cabeça. Aliás, vê-se com clareza solar que aquele gesto não se dirigia apenas aos "esquerdistas", mas a todo e qualquer cidadão que jamais poderá empunhar uma arma.
O gesto de Bolsonaro era, de fato, a mensagem do capital financeiro-global e das milícias provincianas contra todos os cidadãos, inclusive os que os apoiaram.
* Marcelo Seráfico é Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFAM e Coordenador do PPGS/UFAM