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Onde desembocamos todos

Aos poucos as sociedades vão sendo empurradas para situações capazes de abalar as mais firmes e antigas convicções. Seres que se atribuem a si mesmos o monopólio da inteligência, os humanos temos construído uma sociedade que se autodestrói. Nesta fase da trajetória humana sobre a Terra, vai-se realizando aquilo que o gênio de Caetano Veloso afirmou, aparentemente com pretensão muito além de divertir os ouvintes: ... da força da grana que ergue e destrói coisas belas. Pois é isso que me inspira, quando aflora, ganha a superfície e acende polêmicas a pretensão de explorar petróleo na foz do rio Amazonas. Já tentado antes, esse propósito é mais uma vez trazido à mesa. Os que o servem encontram mil pretextos, outros mil sendo imaginados, com o fito de aumentar seu quinhão, na grana que corre o Mundo. Outros tentam discorrer sobre as desvantagens, do ponto de vista da saúde de cada indivíduo, de toda a população da Terra e do próprio Planeta. A estes basta atentar para descobertas, riscos e conhecimentos que têm desafiado verdades que não o são para sempre, mesmo sabendo dos desafios a que os leva a preocupação planetária. Por sua abrangência e complexidade, não raro hostilizada pelos que costumam traduzir em números toda a complexa realidade social. A estes, tem sido assim nos últimos três séculos, não é a qualidade de vida – deles mesmos e dos outros, em maioria estes – que interessa, mas a satisfação de apetites dificilmente dignos do que se tem propalado como inteligência. Se observássemos alguns tópicos do discurso algumas vezes admitido até pelos que destroem mais que constroem coisas belas, talvez algo mudasse. Primeiro, no sentimento dos homens, depois em sua cabeça. Finalmente, em suas ações. Como advogar montanhas de dinheiro gastos em exploração de combustível que a sociedade universal deseja substituir nos próximos anos, pelos danos já causados ao equilíbrio ambiental? Por que insistir na manutenção de transporte coletivo deficiente e insalubre, com a promoção de campanhas pela produção de veículos acessíveis aos pobres? É verdade que isso não passa de cortina de fumaça para esconder algo de que ainda não tem conhecimento, se a remuneração do trabalho dos que realmente produzem não bastam para satisfazer as mínimas necessidades animais? Ou há tanto dinheiro sobrando? Ou, talvez hipótese ainda pior, o combo petróleo saído do fundo do mar, na foz do Amazonas-carros mais baratos movidos a combustível fóssil constituirá mais uma fonte de receita para os que a têm, não depois de uma consulta médica em unidade de saúda da periferia. Esta, quando possível meses depois de espera, será servida aos que ocupam outro espaço na sociedade. Os que, afetados por toda sorte de males físicos e psíquicos, entopem as unidades de saúde de todas as cidades brasileiras. Faz tempo, suspeito (com reiteradas provas de que tenho razão) de que se o diabo existe, os bancos e instituições similares são seu retrato na vida real. Vejo-me agora forçado a incluir outras instituições, nem todas privadas, nesse antigo conceito. O diabo espera-nos, também, na foz dos rios. Sem que possamos afogá-los, com seus chifres, tridentes e rabos. Como certos sáurios, é certo que não morrerão apenas por isso.

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