É quase impossível ficar à margem da discussão que agora - atrasada que seja - começa a tratar das redes sociais como problema de saúde pública. Chega a ser criminoso omitir-se, quando à perda da inteligência humana acrescentam-se outras consequências danosas, especialmente a perda de vidas humanas. Neste caso, vitimando preferencialmente os jovens, em todos os continentes. Especialistas em educação e saúde pública, principalmente, têm-se manifestado, sem que chegue ao nível minimamente razoável a reação da sociedade. Melhor participar da oportunidade, ainda que atrasada, da discussão dos aspectos nocivos apontados. Isso não implica invalidar, rasamente, os benefícios que o avanço tecnológico registra. É inegável, porém, quanto certo deslumbramento por tudo que é rotulado de novidade tem contribuído para gerar a realidade em que vivemos. Os economistas apegados à soberania do mercado, tanto quanto os que validam todas as suas sentenças, tolas, fúteis e muitas vezes desonestas, prestam igual serviço à tragédia em que se vai tornando a vida sobretudo dos mais jovens. A tal ponto chegou a gravidade do problema, que os beneficiários econômicos (monetários, sobretudo) da tragédia alegam defender a liberdade. O que se observa, todavia, é viés absolutamente incompatível com os valores democráticos. Uma espécie de proteção da liberdade exclusiva para os que lucram com o funcionamento das redes. Para todos os demais, a assunção dos riscos, enquanto ricos são os outros. No limite, uma forma de renovar e atualizar a velha sentença do ministro nazista Goebells: a mentira dita mil vezes ganha foro de verdade. Se cada formador de opinião pública - e quem não o é? -, nos tradicionais meios de comunicação, nas salas de aula e em outros ambientes em que informações são produzidas e postas a circular, pautar sua conduta por valores minimamente democráticos, talvez seja estancada essa caminhada em direção ao caos. Não se espere que a própria tecnologia e os que a ela se submetem docilmente serão capazes de contribuir para a solução desse grave problema. Na cabeça de gente (?) assim não cabem conceitos de ordem ética, tão apegados estão à ideia de que o mercado resolverá todos os problemas da sociedade humana. Basta olhar para o cenário globalizado, se quisermos constatar quanto a supremacia da visão mercadológica tem feito mal à sociedade humana. Por isso, comete crime quem se mantém distante da questão.
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