O veto do triPresidente a algumas excrescências tão típicas do Congresso conduzido pelo centrão traz promessas quase impossíveis de ajudar nas previsões. Pode tanto ser o primeiro passo de um enfrentamento desejável, pelo que tem de corretivo de uma situação por todos os títulos politicamente teratológica, quanto pode apresentar riscos difíceis de avaliar. Refiro-me à necessária caminhada em direção ao desfazimento das relações espúrias mantidas entre o Parlamento e o Executivo. Como se sabe, o primeiro ano do terceiro mandato de Lula marcou-se por um padrão de entendimento entre os dois poderes alguns anos-luz distante do que se pode considerar uma república. Pelo menos, como a entendem os seguidores e intérpretes de Montesquieu, uma espécie de pai do modelo. Não obstante, os resultados alcançados pelo Executivo não são desprezíveis, sem que se saiba se bastarão para manter a base que só o fisiologismo poderia alcançar. Porque são os apetites de toda ordem, menos os de ordem pública, cívica ou democrática que o centrão exige satisfazer. É como se, encerrado o primeiro combate em uma luta de boxe, os adversários se entreolhassem, cada qual em um dos córneres do ringue. Certamente, como os boxeurs, avaliando reciprocamente o estado de seu oponente. Em torno de cada um deles, cuidadores e treinadores ansiosos pelo toque que dará início ao novo assalto. Aqui, no sentido exato de que se valem os comentaristas da (não sei porque) chamada nobre arte. Não o assalto como ele se faz presente em todo o território nacional. Menos, ainda, aquele que sempre chama a atenção e os olhos dos interessados, dirigidos aos cofres públicos. O grau de agressividade e de pontaria dos punhos de seus assistidos e a reação da plateia entra nessa conta de que se ocupam muito mais os preparadores que os disputantes. Até a efetivação dos vetos, o Congresso (pode-se ler centrão, se se quiser) parecia prestes a iniciar ações que levariam ao nocaute do opositor. A parcela fisiológica tinha muito o que festejar e aparentava euforia raramente ocultada. Com a divulgação dos resultados do primeiro ano de mandato, o lutador do outro lado parece ter mostrado a força dos seus punhos e a determinação de chegar a resultado que lhe favoreça. Por enquanto, a plateia não regateia aplausos ao cruzado que promete recolocar o Brasil no cenário mundial e vê-lo reincluir-se dentre as 7 maiores potências econômicas do Planeta. Outros torcedores batem palmas porque veem abertas amplas oportunidades de trabalho, no soco que rompeu o queixo do outro contendor. É o que dizem as notícias, e não apenas segundo declarações de fanáticos do lado em vantagem no ringue. A redução no registro de armas, a contenção da inflação, as perspectivas de maiores ganhos para o agronegócio e outros setores, a baixa no preço de boa lista de alimentos, os anúncios do PAC e – sobretudo para os que reclamam do manicômio tributário – a efetivação da reforma tributária, se bem que meia-boca, tudo isso pode encorajar a plateia e fazê-la participar mais ativamente do processo que levará à saúde republicana. Nesta, a autonomia e a harmonia entre os poderes ficarão obedientes ao que a Constituição-cidadã chama objetivos da República Federativa do Brasil. Não precisa mais que isso.
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