O relatório da CPI

Gostaria de iniciar este comentário fazendo previsão animadora. Isso importaria admitir a punição implacável de todos os envolvidos nas ações criminosas que a CPI da covid-19 revelou. Tudo, respeitado o devido processo legal. Algo essencial e completamente avesso ao que Moro et caterva fizeram, na Mente-a-jato. Quando os brasileiros conhecerem o relatório dos trabalhos do órgão investigador, identificaremos uma faceta - talvez a única original - perversa e trágica da corrupção. Neste caso, o mau uso, o desvio e a rapinagem do dinheiro público vêm acompanhados do mesmo propósito que animou Hitler, Göebells, Eichmann e os assassinos de 6 milhões de judeus. Tais revelações, contudo, têm sua credibilidade dependente da capacidade do relator em conter sua (muitas vezes, exagerada)ira. Algo desnecessário, frente à abundância de provas, textuais e imagéticas, acompanhadas de reiteradas confissões. Assim, os brasileiros terão mil razões para avaliar as consequências do fechamento do Poder Judiciário ou sua submissão aos projetos macabros do (des)governo. A quantidade de depoentes protegida pelo habeas corpus, todos eles alinhados com o ódio à Justiça, se não estiver devidamente destacada no relatório, constituirá uma falha fundamental da CPI. A mesma atenção deve ser dada ao silêncio comprometedor. Se o silêncio protege o depoente da eventual comprovação de ato delituoso, e ele o usa, é porque conhece sua própria participação na efetivação do delito. Aguardemos o relatório. Sem otimismo ou exagerado pessimismo, mas sempre certos de que a democracia permanece em risco.