O que pensam os moços?
Em momentos como este vivido pela sociedade brasileira, é comum ser tirado dos baús e arquivos conhecido e celebrado discurso de Ruy Barbosa. O famoso advogado brasileiro o pronunciou em cerimônia que reunia diplomandos do curso de Direito, de que era paraninfo, turma de 1921. Do Largo de São Francisco, em São Paulo, a Oração aos moços repercutiu por todo o País, chegando ao primeiro centenário com enorme atualidade. Desde aquele longínquo março, uma frase tem sido repetida, porque as práticas denunciadas e condenadas pelo jurista baiano persistem, não raro revestidas de características mais perversas e desavergonhadas que as do passado. Chegará o dia em que teremos vergonha de ser honestos – disse Ruy. Hoje, não se sabe qual o mais ignorado, se o próprio jurista ou a vergonha. Ou ainda, qual o significado de honestidade. As redes (anti)sociais vêm divulgando a Oração aos moços, muitas delas reincidentes nas desonestidades de que tratou o Águia de Haia. Mas repetem Ruy como se as práticas a que se vêm entregando não se incluíssem no rol de desonestidades denunciadas. A hipocrisia tentando transformar demônios em anjos bons, mesmo se à vista da maioria não estivessem suficientemente claras as intenções subjacentes ao uso indevido do discurso de Ruy. Nada teria mudado, nesse particular aspecto de nossa vida política, segundo alguns. Outros, porém, são capazes de apontar mudanças fundamentais, ainda que nenhuma delas tenha tornado melhor e menos injusta a vida em sociedade. Os cultores da desonestidade e os desavergonhados de sempre agora contam com tecnologias que os tornaram mais nocivos à comunidade. E as têm usado à farta. É mais cômodo, porém, praticar ilícitos e divulgar o discurso do jurista baiano, porque à desonestidade é acrescentada a hipocrisia. Confesso não saber o que os moços de hoje dizem a respeito do assunto – práticas e discurso.
Caso vivesse hoje, O bom baiano teria que fazer sua oração aos moços e moças,