Quando pensei nesse título, lembrei da tese de Leandro Konder, posteriormente transformada em livro.
Nele, o filósofo marxista indica as limitações que recepcionaram as ideias de Marx no Brasil, como a influência anarquista, o próprio stalinismo e a iniciante formação de uma classe operária.
Mas quem sou eu para tentar desvendar a negação da dialética que o PT assumiu em Manaus e suas peripécias pelo mundo distópico. Quero apenas indicar alguns problemas conjunturais.
O PT realiza desde 2001 o PED - Processo de Eleições Diretas, como resolução do seu II Congresso, ocorrido em novembro de 1999. No PED, todas as direções do partido são eleitas pelo voto dos seus filiados com mais de um ano de filiação.
Vejamos um pequeno trecho da resolução do II Congresso.
"Eleições diretas para presidente e direções partidárias em todos os níveis, a partir do ano de 2001.
... Em todas as instâncias partidárias deve ser desenvolvido intenso debate
político durante os 30 dias que antecedem as datas dessas votações. Os Encontros e Congressos devem ser precedidos obrigatoriamente de atividades político-
culturais; debates, seminários e conferências, publicitadas e abertas a todos."
Pois bem. Este ano teremos as eleições para eleger todos os dirigentes do PT, de Uarini à grande São Paulo, de Eirunepé a Belo Horizonte. Será dia 6 de julho, com cerca de 1,7 milhão de filiados aptos a votar.
Aqui em Manaus, o processo tem seguido por caminho desviante.
O PED foi criado como mecanismo de mobilização e fortalecimento do PT. Por sinal, é o único grande partido no mundo que elege seus dirigentes pelo voto direto dos filiados.
Acontece que aquela resolução congressual, que criou o programa, falava em intensos debates, seminários, atividades políticos-culturais, conferências, que deveriam preceder as eleições.
Isso tudo como parte do processo de fortalecimento do partido.
O PED é um processo interno do PT. Nele deve ser debatido o partido, suas táticas e estratégias, tudo de acordo com as normas estabelecidas.
Aqui em Manaus, esse processo dialético foi derrotado antes das eleições e sem qualquer causa objetiva, como aquelas apresentadas por Leandro Konder.
O PED foi atirado na rua pela janela do partido e caiu no colo da direita, da extrema direita e dos inimigos do PT. O que era pra ser interno virou notícia negativa na mídia corporativa, nas tintas borradas de blogueiros e nas línguas necrosadas de influenciadores.
As disputas internas no partido saíram do ambiente interno, do debate de ideias, do conflito que faz crescer, para aporrinhar o povo e a sociedade manauara, logo essa gente que tanto precisa de política e não de baixaria.
Sim, a dialética está derrotada diante de dirigentes que não reconhecem a importância do conflito no processo de construção e o transformam em instrumento de autodestruição.
Concluo sugerindo que militantes e dirigentes tragam o PED de volta para o ambiente interno do partido e dele façam um momento de reflexão sobre o PT, tracem táticas e estratégias para superar dificuldades.
Lúcio Carril
Sociólogo
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