O declínio da representatividade como a vimos experimentando exige métodos inovadores, se desejarmos estanca-lo. Maior é o desafio lançado à militância e às lideranças políticas, se a recuperação da democracia ou seu fortalecimento é o objetivo. Óbvio que, dependendo de cada situação, ao processo político devem ser levadas práticas igualmente diferentes. Pode ser que a percepção do cenário e o enquadramento não cheguem à unanimidade, nem se garante que isso traria mais benefícios ou prejuízos. Apenas consenso a respeito de aspectos e princípios fundamentais, não mais, facilitaria a chegada a porto mais desejável. Os advogados do diabo serão sempre fator de equilíbrio, como o bobo da corte é quem denuncia a nudez do rei, nas monarquias. Há peculiaridades, de país a país, sem que isso anule certas semelhanças, pelo menos quanto à configuração geral do fenômeno. Nesse caso, difícil contestar o fato de que, aqui e acolá, registra-se evidente divórcio entre as aspirações e carências das populações e o desempenho dos respectivos representantes. Talvez devam ser pinçadas as causas dessa flagrante distância, e daí buscar meios de remove-la, cuidando sempre para que o remédio não acabe por envenenar o paciente. No caso brasileiro, mas não só nele, interesses de toda ordem, e quase sempre vinculados às elites, empurram os representantes para longe dos anseios populares. Essa conduta, em grande medida, tem muito a ver com o grau de corrupção característico de nossa vida política. Quando ocorre de algum setor da sociedade mostrar-se interessado em romper este vício ancestral, quase sempre o resultado se traduz no reiterado acordo por cima. Sempre são os endinheirados os beneficiários, com o que o círculo vicioso se estabelece. Tudo parece mudar, para continuar como sempre foi. É certa, portanto, a absoluta implausibilidade de resolver os problemas nas instituições, se fatores externos a elas não intervierem. Sem rupturas ou ofensas à Constituição, antes arrimando a intervenção no próprio texto constitucional. Numa palavra, só a crescente presença do povo nas ruas, quantas vezes isso se faça necessário, tem potencial para forçar a resolução satisfatória dos problemas que o afligem. As manifestações do sábado 24 de Julho, em numerosas cidades brasileiras, ocorreram sem que incidentes expressivos se tenham registrado. Não se ignorem as raras provocações, aparentemente, até pelo traje dos predadores, partidas de grupos em nada afeitos às palavras de ordem dos divergentes. Tire-se, ademais, uma conclusão cristalina, pelo que tem de esclarecedora: quando as forças da segurança ficam recolhidas, tudo corre na paz que aproveita à democracia.
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Para um parlamento em que empresários representam trabalhadores, a Constituição é um obstáculo e o papel do Estado é contraditório.