A ciência se constituiu como a verdade do mundo moderno. Ela foi vítima da intolerância religiosa e do poder político durante séculos, mas se validou como referência de conhecimento da natureza a partir do exame racional e epistêmico das coisas.
A análise do fenômeno, a construção de hipóteses e a síntese epistemológica se tornaram parte constitutiva do método científico. É assim que é validada sua verdade. Não é possível atalhar o método para satisfazer interesses políticos. Isto seria a destruição da ciência e de todo pensamento que orientou as grandes revoluções científicas e tecnológicas. Este mundo não teria superado tantos limites sem estas conquistas.
Mas hoje estamos enfrentando uma tentativa de retorno ao medievalismo, com a restauração de uma religiosidade nociva, extemporânea e anacrônica, que busca negar as conquistas da humanidade. Não se trata de uma nova fé, mas de um jogo político que aposta na negação do conhecimento como forma de dominação; é um jogo sorrateiro e perigoso.
Esta prática vem ganhando adeptos no Brasil após a posse de um presidente que despreza a ciência e toda racionalidade moderna.
Para nosso azar, estamos diante de uma pandemia e tendo que enfrentar uma horda de negacionistas que insiste em desprezar o conhecimento científico como única forma de salvar vidas. Trata-se de uma situação criada desde o início do governo Bolsonaro e agora agravada pela crise.
A ciência e os cientistas estão tendo que enfrentar uma nova inquisição. Desta vez capitaneada pela estupidez e pela extrema ignorância e não mais pela instituição igreja. Mesmo o evangelismo neopentecostal não se caracteriza como instituição, mas como parte desse apedeutismo seletivo.
É preciso acreditar na ciência como solução para a crise de saúde instaurada pela pandemia. É neste conhecimento que está a saída e não na vaidade doentia de uma gangue que só pensa no poder.
Lúcio Carril
Sociólogo
Comentários