O dito padre Kelman é a ponta do iceberg do braço bolsonarista-extremista e disposto ao Capitólio no Brasil. Não deveria ser visto como folclore. A questão de fundo, a meu ver, não é somente seu pertencimento à Frente Integralista Brasileira.
Desde que as frações bolsonaristas passaram a trabalhar para deflagrar uma crise que pudesse comprometer o processo eleitoral, abrindo vias imprevisíveis, Roberto Jefferson foi elevado ao lugar de organizador (não necessariamente como estrategista) dessa opção. Kelman é Roberto Jefferson. E Roberto Jefferson, embora sem o talento e visibilidade de Bannon, pode articular milícias, clubes de armas e outras frações para engendrar a crise da via eleitoral.
Desde 2021, o PTB vem agregando tais forças da extrema-direita.
Ao se fantasiar de padre, o agente de Roberto Jefferson objetivou criar a imagem de que, fora Bolsonaro, os outros são capazes de agredir até mesmo um “padre” e o próprio cristianismo, buscando justificar a legitimidade das ações da extrema-direita fascista.
Parece evidente que esses intentos podem não devem se esgotar em 2022.
É um movimento que, embora com vasos comunicantes com frações burguesas relevantes, está se movendo nos dutos dos esgotos. As recentes sinalizações dos EUA e o concorrido beija-mão do grande capital reconhecendo o novo governo Lula atestam que tal movimento da extrema corre com autonomia frente ao bloco no poder.
Dadas as características dos segmentos armados e o apelo ideológico da extrema no senso comum, entendo que podemos e devemos carnavalizar (no sentido bakhtiniano) esses personagens, mas não os subestimar.
A vitória de Lula no primeiro turno, nesse prisma, é de extraordinária importância, pois reduzirá a motivação de franjas importantes da extrema-direita.
Roberto Leher, 30/09/22.
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