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Foto do escritorProfessor Seráfico

O dia-antes

Nas várias crises por que tem passado o Brasil, momento algum esteve perto de assemelhar-se da realidade hoje experimentada. Acompanhando o processo político desde aquela manhã que fomos devolvidos do colégio secundário porque Getúlio Vargas pora fim à própria vida, não faltaram passagens críticas. Nenhuma delas, porém, com a gravidade da crise atual. Os que apostam suas fichas na crise e consideram que quanto pior, melhor para seus infames propósitos, não veem o problema onde ele está. Acostumados a alimentar-se nas fontes controladas pelo Governo, tanto se lhes dá se a pobreza tem aumentando e os pobres de ontem vão-se tornando miseráveis. Mesmo dentre aqueles que perderam algum parente (pai? mãe? avô? irmão ou irmã?...) porque lhes tenha faltado o oxigênio, tenha sido negada a vacina, ainda que tenham visto os cadáveres de entes queridos entulhados em carros-frigoríficos, encontraremos os que levam a única vida que lhes interessa - a deles mesmos. Afinal, o líder que os fanatizou não mandou recado, disse-o com todas as letras: todos um dia morreremos. Enquanto vivos, não custa aliar-se aos que asseguram mesa farta, sexo satisfeito, viagens dignas de Júlio Verne ou Ali Baba. O Mundo, para esses, sempre será a maravilha concentrada, não vista apenas em sete ou uns poucos mais lugares do Planeta. Até que, para esses, o custo é baixo. Tanto, que fingem ignorância quando não a têm, tudo para apropriar-se do quinhão a que se julgam com direito, mesmo à custa do sacrifício, da fome, da vida dos outros. Que, hipócrita ou timidamente chamam semelhantes. Outro nunca será semelhante. Não fosse por outra coisa, pela incidência em uma contradição de termos. Assim, vão levando sua vida com ar triunfal, como a dizer a todos que, eles sim, são os mais aptos. E, já disse Charles Darwin, vivos são vocacionados para a sobrevivência pela própria aptidão. A submissão, o puxa-saquismo, a adesão irresponsável - e tantas outras deformações de caráter neles não são mais que ingredientes de perversa e criminosa aptidão. Pensam escapar do olhar atento dos seus contemporâneos, como se desdenhassem da proverbial sentença do seu guru. Pensam-se imortais, sequer se dando conta de que as páginas da História em que serão um dia mencionados corresponderão aos monturos de lixo reunido na periferia das cidades por eles mesmos construídas. Nos dias de sua vida ainda por viver (?) pensam-se acima de toda e qualquer suspeita, porque tem sido assim. Quando ocorrerem os fatos para os quais têm concorrido, não é aos reverenciados de hoje, que mais tarde os colocarão no rol dos inimigos, que recorrerão. Baterão às portas dos tribunais que enxovalham, como os cães pirentos a lamber as botas de seus carrascos. Terão resistido o quanto puderam, para afinal render-se à realidade que propositalmente fizeram questão de não ver. Por isso, há os que, como muitos dos brasileiros que enxergam pelo menos alguns centímetros adiante do próprio nariz sabem os riscos que corremos de chegar ao 02 de outubro quietinhos em casa, sem que as urnas precisem ser fechadas, pois não se terão aberto. Nem precisarão esperar pelo day-after que sua presunção linguística denomina. Já terá passado a hora de chorar o leite derramado.

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