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O desfile e a desfaçatez

Leio e ouço sobre desfile que o governo russo promove nesta segunda-feira, 9 de maio, em Moscou. A razão (ou mero pretexto) que justifica o espetáculo é comemorar a suposta vitória das tropas soviéticas contra o nazismo. Não é demais nem inoportuno lembrar certos acontecimentos capazes de reduzir a costumeira magnificência dos desfiles militares a uma cena melancólica, além de anacrônica, para não a chamar de surreal. Ao que consta da História, à Ucrânia é justo creditar papel fundamental na defesa do território da então União Soviética. No entanto, esse é o país invadido por comandados de Putin, reduzidos o poderio e o prestígio da Rússia. Ademais, como lembra Drummond, União Soviética não há mais, José. Nem mesmo resta o Pacto de Varsóvia, cuja dissolução deixou vasto território à disposição da OTAN e seus donos. Não se esqueçam o ressurgimento do nazi-fascismo e a multiplicação de governos orientados segundo seus valores, Mundo afora. Uma espécie de retorno das ilusórias catacumbas onde estariam repousando ad eternitatem os restos do nazismo. Tratava-se, agora se vê, de um período de hibernação, à moda dos ursos. Ou, se considerarmos o odor apodrecido que os retornados exalam, uma espécie do processo de cura que prepara certos tipos de queijo para entrar no mercado. Pergunto: afinal, o que festejam Putin e os que o seguem?

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