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O batom de dona Débora e a pena

O batom de dona Débora tornou-se símbolo. Até Elio Gaspari, um artista da palavra que transforma o verbo segundo o humor da hora, deixou-se levar pela onda leniente que considera assunto de somenos a pretensão de derrubar o Estado Democrático de Direito. Segundo se sabe, ainda que parcialmente, a esteticista não limitou sua participação nos atos que o Supremo Tribunal Federal considera obra de uma organização criminosa, a deixar sua caligrafia (essa palavra tem antônimo?) no busto de Minerva. A esse ato, talvez o de menor teor delinquente, dona Débora juntou a presença em frente a pelo menos um dos muitos acampamentos em que o dinheiro público era usado para aliciar, orientar, treinar e proteger os terroristas. Não só ela, é verdade! Nem por isso, a imagem desenhada por Élio Gaspari e os que assumem a mesma posição leniente (apenas isso?) do jornalista tem o direito de avançar, se é que desejam de fato os desenhistas que a verdade triunfe e a democracia supere de vez a debilidade que tanto interessa a certos segmentos da população. Jamais à maioria, como o resultado das urnas o comprovou, em 2022. Admita-se que, à primeira vista e quando os atos delituosos ainda têm muito a ser desvendado, surjam inesperadas manifestações de leniência. Sobretudo, quando os futuros réus entrarem em fase ainda mais ameaçadora do devido processo legal. Talvez até o suposto peso exagerado das penas até agora aplicadas passe a ser considerado a punição mínima dos que participaram dos atos delinquentes sobejamente divulgados, em decorrência da quase-certeza dos meliantes de que eram senhores da república e nada a eles aconteceria. Por certo não lhes terá faltado sequer, a esperança de verem posta em sua defesa, mesmo contrariando as contundentes provas por eles mesmos produzidas, boa parte da sociedade brasileira. Dentre seus apoiadores, portanto, poderiam estar pessoas às quais é impossível qualificar como ignorantes ou igualmente interessadas em ver ruir a construção democrática tentada desde a desmoralização da ditadura. Foi o mesmo Elio Gaspari quem, em obra inesquecível (A ditadura envergonhada, A ditadura escancarada, A ditadura derrotada, A ditadura encurralada e A ditadura acabada) tratou das atrocidades cometidas pelo Estado brasileiro, sob o regime resultante do golpe que derrubou o governo constitucional de João Goulart. O que pretendiam os líderes do golpe frustrado em 08 de janeiro de 2023 não era nada diferente. Com a abertura da sessão do Supremo na última terça-feira, a lição dada pelo relator, ministro Alexandre de Moraes, era de esperar que muitos dos iludidos aprenderiam. Não parece o caso, quando um dos mais influentes e bem-informados jornalistas brasileiros admite a hipótese de o atentado terrorista ter sido obra de inocentes e piedosas criaturas, peregrinando pelas sedes dos poderes republicanos, com a intenção de apelar aos céus por milagres que matariam a claudicante democracia que experimentamos. Confundir picaretas, pedaços de metal ou madeira e outros objetos contundentes ou perfurantes com terços, escapulários e bíblias, realmente, não cabe – nem sai – da cabeça de quem a usa para pensar. Ainda mais, quando farto material imagético foi produzido e divulgado pelos próprios golpistas. A condenação dos arruaceiros e terroristas, portanto, será a mais respeitável lição que os brasileiros podem dar ao Mundo.


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