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O amargo sabor do algodão

Recebida a denúncia do Ministério Público envolvendo importantes personagens da tramoia fracassada em 08 de janeiro de 2023, vão-se produzindo cenas da mais digna chanchada brasileira. Os comentaristas, analistas, observadores, denunciados, simpatizantes e defensores deles perdem de vez a dignidade que ainda se lhes poderia imputar, dando preferência a outro tipo de trama. Enveredam pela via ficcional, esquecidos do quanto foi possível colher de provas fundamentais da peça enviada pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. Há mentiras em todos os graus que se possam imaginar. Desde as que confrontam com palavras a contundência das imagens e outros registros, até aquelas que ignoram tudo quanto foi apurado - e revelado, até então. Sabe-se, porém, que muito mais poderá ser levado ao conhecimento da opinião pública, quando de fato começarem a oitiva das testemunhas e a abertura do bico dos envolvidos. A rigor, os denunciados vão do desespero à esperança de que os ministros do Supremo apaguem de sua memória tudo quanto viram, leram e ouviram, porque material probatório não falta. A tal ponto é copioso, que os mais bem-humorados dos analistas acreditam na possibilidade de absolvição de alguns dos réus por excesso de provas. Desta vez, a absolvição se fundaria no ineditismo: de um lado, a quantidade de depoimentos, imagens, termos de audiência e outras peças negligenciadas sempre que o devido processo legal é desobedecido; de outro, a excepcionalidade que vem de terem sido em grande proporção, provas produzidas pelos próprios réus. Se isso já revela a sensação de poder absoluto e a consequente impunidade, não basta para fazê-los salvos das penas cabíveis. Quando burrice e bravata se encontram, outra coisa não se pode esperar. Também não se há de esquecer quanto laboram os defensores do golpe, capazes até de ver terços e rosários travestidos de instrumentos de ataque pontiagudos e bíblias sob o formato de picaretas. Mesmo a fúria destruidora que chegaram às telas de televisão de nossos 8,5 milhões de km2 têm sido confundidas com contritos e fervorosos fiéis, genuflexos diante da Constituição, nos templos que escolheram para destruir. Muitas daquelas pessoas (?) são apresentadas como provectas e piedosas senhorinhas, fazendo coro com vendedores de algodão doce. Nem se dão conta de que apenas oferecem a primeira prova de que está para chegar o dia em que seu templo será outro e o sabor diferente. Muitos terão que provar a amargura do algodão, dentro das penitenciárias.

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