Letras bailarinas
Paulo Emílio Martins
antes elas chegavam
como cascatas de ideias.
vinham sem peso
bailavam no ar
sem mistérios,
cantavam, choravam.
partiam,
como chegavam.
depois, se tornaram
mais avaras:
vinham enigmáticas,
perguntavam
mais do que respondiam,
revelavam-se e ocultavam-se
em mistérios,
já não bailavam
e escondiam-se dentro de si mesmas.
quando reunidas,
Impunham condicionantes para
seguirem juntas.
já não lhes basta a aventura da viagem,
clamavam por permanência,
buscam eternidade.
agora, quando chegam,
misturam-se,
e disfarçam-se,
entrelaçando-se, confundindo-se.
divertem-se num jogo de esconde-esconde
de dois cristalinos cansados.
quando se fazem música,
voltamos a bailar juntos
nos elísios da poesia,
até que outros cristalinos
as refratem claras,
e, de novo,
num orgasmo de luz
eu as reencontre:
femininas,
sedutoras,
minhas
letras bailarinas.
rio de Janeiro. 20 de março de 2023
Comentários