É do passado recente que trata o Conselho Federal de Medicina, dois anos antes empenhado em desmoralizar o exitoso Programa Nacional de imunização. Cúmplice, portanto, da elevada perda de vidas, em decorrência da pandemia causada pelo covid-19. Agora, o CFM divulga um dado que por si mesmo diz da desigualdade reinante no País. O crescimento do número de médicos em atividades no território brasileiro chegou a 89% nos últimos anos. De 2010 a 2024, chegam a quase 600 mil os profissionais da Medicina, em suas diversas especialidades. Em números menos inexatos fornecidos pela entidade, eles são 575.000. No ano inicial do levantamento, eram pouco mais que 300 mil. A constatação mais evidente remete-nos à situação desigual de mais da metade das unidades federativas, de que só 13 concentram o grosso desse importante contingente de médicos em atividade. O que faz algumas delas ostentar quadro melhor que o de países como os Estados Unidos da América do Norte e Japão, na relação médico/população. No Distrito Federal, por exemplo, esse índice chega a 6,3 médicos por 1.000 habitantes, enquanto o país mais belicoso e poderoso do Mundo o tem na escala 2,7; o Japão o tem ainda menor, registrando 2,6. Mesmo o Reino Unido, exemplo mundial de bons serviços médicos prestados à população, alcança apenas 3,2. Nos Estados do Nordeste brasileiro concentram-se 8,6% da população nacional, sendo que as atividades médicas estão entregues a 4,8% dos profissionais. Comparadas as unidades da Federação com o índice nacional, revela-se que todos os Estados da Amazônia estão abaixo do índice nacional, 3,07 médicos/1.000 habitantes. Na região nordestina, apenas a Paraíba (3,08) está acima do índice. Dos Estados do Centro-Oeste, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins situam-se abaixo do índice de 3,07 médicos/1.000 habitantes. Na região Sul e no Sudeste, todas as unidades federativas estão acima da média nacional. Não bastasse a concentração nos Estados mais ricos e menos pobres, são as cidades com mais de 500.000 habitantes as preferidas pelos médicos. Mais uma evidência de que a concentração de recursos (inclusive técnicos e materiais) se estende ao setor, levando os índices de bem-estar social à desigualdade prevalente no País. Poucas informações são colhidas nos media, a respeito das prováveis causas desse desequilíbrio, de alguma forma condenatória de ampla maioria da população brasileira. Insinuam as matérias divulgadas sobre o assunto, estar o CFM preocupado com a própria formação dos profissionais que incumbe ao órgão, uma autarquia, supervisionar. Nem precisaria ir muito longe, nem desfocar o interesse da própria atuação dele, diante da conduta oficialmente mantida, durante a covid-19, que matou mais de 700.000 brasileiros. Alguns desses, sabe-se, louvados em reiteradas proclamações de hostilidade à imunização da população e atentos às recomendações que punham mezinhas carentes de validação científica nos receituários prescritos. Nunca será demais afirmar que a formação de qualquer profissional, da Medicina ou de qualquer outro setor de atividades, começa pela formação do cidadão, votado ao bom serviço aos seus semelhantes e devotado, no caso dos médicos, a salvar vidas e minorar o sofrimento dos pacientes. Quando se lembra que há duas formas de pagamento a grande número desses profissionais – com e sem recibo – pode-se legitimamente suspeitar de que estamos diante de um sonegador.
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