Necessidade e suficiência são dois conceitos exigíveis dentre as preocupações de qualquer agente público. Mais, ainda, quando repousa sobre seus ombros a responsabilidade pela formulação de políticas que levem ao bem-estar social, tanto quanto dos que devem executá-las. Quase um truísmo, isso nem sempre está presente na cogitação, menos ainda no propósito dos gestores públicos, no Legislativo e no Executivo em qualquer dos seus níveis – municipal, estadual, federal. Para entender de que forma a necessidade e a suficiência devem orientar os agentes públicos, sobretudo os detentores de mandato popular, é preciso abandonar mesquinhos interesses frequentemente usados como pretexto para decisões e ações sempre pagas com o suor dos que trabalham. Muitos desses interesses, exclusivamente voltados para o benefício de ínfimas minorias (mineradores. agronegociantes; produtores e vendedores de armas; invasores de terras públicas, especialmente indígenas etc.), colocam as necessidades de ordem pessoal ou grupal sobre as necessidades da maioria da sociedade. Não raro, o benefício que todos pagam acaba por gerar pagamento aos que os promovem e põem em execução. Também se conte no rol dos vícios políticos a que ainda não se conseguiu dar efetivo combate, a demagogia. Embora todos saibamos quanto o eleitorado gostaria de ver resolvidos seus mais urgentes e graves problemas e quanto isso o influenciaria na hora de votar, mais fácil é usar o engodo e a propaganda enganosa. Essa tem merecido a preferência de boa parte – quem sabe da maioria – dos políticos. Quando o uso das verbas a que têm direito os detentores de mandato popular se prestar à manutenção de cabos eleitorais, por que o esforço de recorrer à análise das necessidades da maioria da população e às práticas suficientes? No entanto, é assim que tem ocorrido. O populismo tentando fazer-se passar por conduta democrática, como foi ontem, como é hoje e como tudo indica permanecerá por tempo sequer estimável. Também se observe quanto é acusado de populismo todo gestor que, desviando-se do padrão, formula políticas e decisões que contemplam os interesses da maioria. As elites brasileiras, tão arraigado seu conservadorismo, proclamam-se conservadoras. Nem se dão conta de que o que estão conservando ou ajudando a conservar é posto à luz do sol, onde a fome, a doença, a violência, o desprezo pela natureza constituem a realidade. Muitas vezes, mais frequente do que o tolerável, um conservadorismo pregado em nome de Jesus. Onde era para haver amor, o ódio orientando condutas. Onde a fraternidade deveria prevalecer, estabelece-se a competição, inimiga figadal da solidariedade. Onde se deveria buscar o bem-estar coletivo, o empenho permanente e cada dia mais vigoroso dos que pensam tudo comprar com o dinheiro. Este Natal, como o dos últimos anos, marcado pela indiferença de ínfima parcela da população em relação ao sofrimento da maioria. Nada provocará, no entanto, o recuo dos que acreditam em um mundo melhor. Para todos, sem exceção. Tudo quanto passa pela cabeça do homem, um dia se fará realidade. É nesta utopia que chegaremos um dia. Porque tantas são as utopias tornadas realidade, que concorrer para que todas se realizem é o compromisso dos bons. Os outro...são os outros.
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