Orlando SAMPAIO SILVA
No Natal se comemora o nascimento de Jesus Cristo
Este nascimento marca o início da Era Cristã. A importância deste fato, na
história da humanidade, projeta-se na medida dos tempos históricos que, no Mundo
Cristão, passaram a ser registrados como a.C. e d.C. Portanto, o primeiro
dia do ano deveria ser o dia 25/12, o em que se comemora o nascimento!
Não é, por causa do calendário gregoriano (cristão; adotado pelo papa
Gregório XIII - 1502-1585 de nossa era), no qual o ano começa no dia 1°
de janeiro. Por quê? Porque, quando Jesus nasceu, vigia outro calendário,
o juliano (romano; adotado por Júlio César – 100-40 a.C.), e a data do
nascimento de Jesus ficou uma incógnita segundo esse calendário romano.
Mas, foi estabelecido, na tradição cristã, que Jesus nasceu no dia 25 de
dezembro. Por quê? Aí vêm duas questões: a) pelas narrativas bíblicas, Jesus
teria nascido no solstício do inverno, levando em conta, além da posição
do eixo da Terra, na época, também, a localização dos astros, como eles
eram vistos, e o aparecimento, então, de um cometa; estes fatos da
realidade astronômica (que são conhecidos pelos astrônomos do presente) teriam
orientado os Reis Magos na sua busca da gruta do nascimento; b) os judeus
comemoram, desde os tempos antigos, bíblicos, no Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico.
Esta celebração é uma festa móvel que, no presente, cai em setembro-outubro. Jesus e
sua família, judeus, comemoravam o Rosh Hashaná no solstício do inverno.
Com a substituição, pelos cristãos, do calendário juliano pelo gregoriano,
foi, então, convencionada a celebração do nascimento no dia 25/12, em
uma combinação da tradição judaica com a questão do solstício.
A árvore de Natal e o Papai Noel são duas tradições diferentes e paralelas.
Ambas se reportam ao extremo Norte do Globo Terrestre, em fases
arcaicas, relacionadas com crenças, lendas e rituais de povos bárbaros ou
pagãos ou não cristãos. Estas duas tradições se localizam, em sua origem, no
Norte da Finlândia, terra dos Lapões. A Finlândia tem florestas de
pinheiros. Aqueles povos primevos celebravam o solstício de inverno em
torno da árvore símbolo, o pinheiro, exatamente na época de sua
ocorrência (do solstício). Esse costume se expandiu para o Mundo, sempre com a
árvore (pinheiro) coberta de "neve" (nos trópicos representada por algodão), que é
exposta justamente nesta época do ano. Lembrar que no estremo Norte, nessa época
ocorre o inverno, estação que traz muita neve.
A colocação desta árvore nas casas, nos dias finais do ano, não tinha,
originariamente, um significado religioso cristão. Nos países de outras regiões do
Globo, que não a da origem do costume, como no Brasil, este elemento de decoração,
festivo e de celebração foi adotado do exterior, principalmente por influência do cinema
e da literatura.
Acompanhei a introdução e o aumento paulatino de seu uso nas
comemorações do Natal, em Belém, PA. Antes, as “árvores de natal” não
existiam na época do Natal. Nas casas eram instalados presépios. Depois, com o passar
do tempo, as árvores foram sendo colocadas ao lado dos presépios e, em muitos casos,
elas substituíram os presépios.
Já o papai Noel tem origem com a vida de São ou Santo Nicolau, ou Santa
Claus, ou Santa Klaus (trata-se da mesma pessoa). Santa Claus foi um bispo católico
que, no Séc. IV, tinha o costume de distribuir presentes às crianças, no
Natal. Ele também viveu nessa região do Norte da Finlândia (que é
disputada pela Russia, daí porque diz-se que Santa Claus era russo).
Noël é natal, nascimento, em francês. Papai Noël é papai Natal, Papai
Nascimento (de Jesus).
A personagem Santa Claus (o bispo) expandiu-se para muitos países e veio a
chamar-se Papai Noel, e se tornou essa figura lendária, que, na época do Natal, sai de
sua casa embarcado em um trenó puxado por renas (animais naturais daquelas regiões
geladas), para distribuir presentes às crianças. Este ser mítico tornou-se uma figura, cujo
trenó alça voo em sua caminhada generosa e distributiva pelo Mundo. As crianças de
todo o Mundo passaram mesmo a escrever cartas a papai Noel, fazendo
seus pedidos de presentes. Papai Noel entraria sorrateiramente pelas
chaminés das casas para fazer a entrega dos presentes, enquanto as
crianças dormiam. Veja-se, casas com chaminés, normalmente, só existem
em áreas em que o inverno é uma estação muito fria, casas nas quais existem
lareiras.
O ritual do papai Noel tornou-se um segredo misterioso para as
crianças, que, ao acordarem, encontravam seus presentes sobre seus
sapatos, junto às suas camas (ou debaixo das redes de dormir nos lugares
em que há esse costume), ou nas janelas das casas sobre os sapatos, ou
ainda, sobre os sapatos junto às lareiras, também, junto às árvores de Natal.
O curioso é que existe, mesmo nos dias correntes, uma pessoa, que vive
na Lapônia finlandesa, que diz ser o papai Noel, assume esse papel
lendário e faz a representação anual da distribuição local de presentes,
e que recebe cartas de crianças de todos os continentes. Mas, os pais - os
verdadeiros papais Noéis - sempre procuravam manter aquela aura
misteriosa, o segredo, em torno do personagem papai Noel, buscando
preservar uma mística de inocência e pureza na crença de seus filhos. Nos
dias atuais, marcados pelo laicismo, esta tradição vai sendo desfeita
mediante a revelação às crianças de quais são os verdadeiros Papais Noéis.
E o comércio adotou a figura do homem gordo e sorridente, de longas
barbas brancas e vestida de roupa vermelha para o frio, como instrumento
de propaganda comercial.
Reveillon, na língua francesa, se refere a acordar, despertar, pode
ser ver um novo dia. Daí essa palavra francesa "réveillon", que é utilizada
para referência à passagem do Ano Novo. Ora, Ano Novo significa o
aniversário do início da Era Cristã, ou seja, o nascimento de Jesus.
Assim, as festas do Natal e do Ano Novo são a mesma celebração, ou seja,
é a celebração do mesmo evento, o nascimento de Jesus Cristo. O costume
de dar presentes às crianças no Natal, desde São Nicolau, tem a ver, de
forma originária, com a tradição da visita dos Reis Magos à gruta em que
Jesus nasceu, onde ofertaram presentes ao recém-nascido. Era o Natal!
Em consequência, santo Nicolau (o bispo) instaurou o gesto generoso da doação de
presentes às crianças. Daí ficou o costume, no Mundo Cristão, da distribuição de
presentes às crianças no Natal. Depois, entre pessoas de qualquer
idade! Pessoas de outras religiões também costumam adotar essas
comemorações e, dar presentes nestes dias da festa de Natal-Ano Novo.
Pessoas livre-pensadoras, agnósticas, ateias, também adotam essa celebração. Trata-se
de uma festa humana de confraternização que se universalizou.
Famílias judaicas realizam festa, na mesma época.
Comemorando o que? O nascimento de Jesus? Não. Esta celebração
festiva se tornou uma prática ocidental, de confraternização, que, em
alguns casos, perdeu o cunho religioso cristão. Como eu disse, o Ano
Novo judaico é comemorado no Rosh Hashaná e de conformidade com o calendário
judaico. Os judeus estão no ano 5.777, enquanto nós estamos chegando ao 2.017 (da
era cristã). Outro ritual judaico, o Yom Kipur (arrependimento, perdão), é celebrado
na sequência do Rosh Hashaná. Tem a ver com o arrependimento e o pedido
de perdão a Deus, via Moisés, pelo culto ao bezerro de ouro pelos Hebreus,
na caminhada de retorno à Terra Prometida. Há a festa do Chanucah, também
celebrada em dezembro, com grande significado religioso referente à reconquista do
Templo de Jerusalém, após o exílio na Assíria, e, à sua redestinação à sua função ritual
na religião hebraica.
Na França, já em tempos remotos, a figura do Santo Nicolau ou Santa
Claus passou a ser denominada de Papai Noël. Daí, em português, papai
Noel. Outros países mantêm o Santa Claus ou Santa Klaus. E há outros
nomes para o mesmo personagem. Trata-se de uma tradição antiga que
veio a ser instrumentalizada pelo comércio, para estimular as compras, no
Natal.
Quando eu era criança, havia o papai Noel; quando meus pais eram
crianças (eles eram do Séc. XIX), havia o papai Noel. E assim por diante.
Confraternizemos no Natal-Ano Novo.
(Em 11/01/2017)
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