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Napoleão tropical

Ainda não conseguimos ingressar no restrito quadro de países que têm números expressivos de imunizados contra a coovid-19, vemos surgirem novas ameaças. Desta vez, sem que possamos atribuí-las a seres invisíveis e reconhecidamente irracionais. Não é outra a sensação experimentada, diante do resultado das eleições para a Presidência das duas casas do Parlamento. Não se há de discutir quem é o grande vencedor, porque isso está suficientemente claro. Qualquer outro Presidente da República que agisse como agiu o ex-capitão, teria mil motivos para comemorar o triunfo. Ele é, sim, quem mais ganhou, e mais ganhará, com a conquista dos territórios em que se poderia estabelecer a resistência à marcha para o arbítrio, estivesse ele de alguma forma constrangido pelas instituições ditas republicanas. Não é esse o caso, porém. Ao que se assiste, atualmente, é ao atrelamento de Legislativo e Judiciário a um projeto de governo ao fim do qual será dispensado qualquer capricho da natureza, como o coronavírus que já ceifou cinco vezes mais do que as vidas ostensivamente exigidas. Mais uma vez, revelando quanto produz a criatividade dos que a têm inspirada na ignorância, alimentada pelo ódio e festejada e aplaudida pelos iguais. Sequer surpreende o apoio de certos círculos que se apesentam como libertários e, na hora em que os ovos são postos a fritar, decepcionam os que restam ingênuos. Para dizer o mínimo. Jamais se viu tanto envolvimento de um Presidente com as articulações ligadas à escolha dos dirigentes da Câmara e do Senado. Isso não é tudo, eis que não falta sequer legitimidade a essa conduta. Não, porém, da forma como foi conduzida essa, em que o dinheiro público e a máquina administrativa foi posta no apetitoso prato servido aos eleitores, mandatários de outros, indiferentes e dando sinais de cansaço. Nem tendo na própria pessoa do Chefe do Poder Executivo o articulador-mor, a liderança mais saliente. Da parte do Poder Judiciário, como o conhecemos em algum dia de passado quase condenado à desmemória, não tem sido diferente a conduta. Não são as contas públicas que estão em jogo. Logo a pandemia sairá do foco e perderá as atenções gerais. É nosso sistema dito republicano que nos deveria preocupar, até antes de pensarmos em recuperar a democracia, claudicante e rasa, como a vínhamos conduzindo. Francisco, recolhido na cela papal, sequer será chamado para coroar o Napoleão dos trópicos.

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