Se tudo está errado, ainda pode ser pior. Essa seria umas das leis de Murphy, mesmo se dita com outras palavras. Sem conhecer inteiramente toda a obra de um dos mais conhecidos humoristas da Administração (1), imagino que boa parte dos brasileiros esforça-se por ilustrar a sabedoria das palavras do autor norte-americano. Atos, pronunciamentos e decisões dos que alcançam postos de destaque na vida política brasileira comporiam quilométrica relação de exemplos do que ao escritor pareceria absurdo. Nossa realidade fantástica, capaz de desafiar o colombiano Gabriel Garcia Marquez, incumbe-se de ilustrar muito do que têm dito os agradáveis e inócuos analistas jocosos do fenômeno administrativo. Desde Todo Mundo é Incompetente, Inclusive Você, aumentou o interesse dos estudiosos pela forma humorística com que as organizações passaram a ser estudadas. Muitos diriam perda de tempo ler os livros produzidos com o viés bem-humorado que Bernard Shaw(2) já havia revelado. Não é bem assim, porém. Além de Townsend, Murphy, Shaw, Parkinson, outros escritores alcançaram o sucesso, suas palavras revelando a nudez do rei. A alguns leitores parece ter escapado o sentido dessas análises, muitos deles optando pelo pior caminho. A utilidade de valorizar a crítica bem-humorada foi por eles trocada pelo esforço de dar veracidade ao absurdo, concorrendo para fazê-los presentes na vida social. Do surrealismo ao surrealismo atroz. Particularmente quanto a nós, brasileiros apesar de tudo, constatamos a preferência pelo que há de pior, se dois exemplos nos são oferecidos. É bem o caso da pretensa análise correspondente a recente entrevista do vice-Presidente da República. Falava ele sobre advertência legítima do Presidente do Superior Tribunal Eleitoral, Ministro Luís Roberto Barroso. Mostrando-se claramente hostil ao magistrado, o general Mourão respondeu que a autoridade judiciária havia chegado ao limite. Uma forma de intimidação, procedimento que se tornou rotineiro desde 2019. Tudo para justificar o funcionamento irregular, ostensivo e hostil do Partido Militar, cujas expressões e ações convivem e estimulam permanente crise entre os poderes republicanos e democráticos. Nos Estados Unidos da América do Norte, frequentemente transformado na pátria de todos, a ponto de autorizar reverências aos símbolos daquele Estado, um general (Mark Milley) negou-se a embarcar na canoa golpista de Donald Trump. O então Chefe do Estado Maior das Forças Armadas daquele país pediu desculpas por ter acompanhado, durante alguns minutos de uma cerimônia pública, o Presidente que Joe Biden derrotou nas urnas. Milley sabe conviver com a Constituição de seu país.
_(1) Autores identificados por obras que, de forma leve e bem-humorada,criticavam aspectos disfuncionais da organização burocrática.
(2) Dramaturgo, contista e romancista irmã dês, critico da opressão da classe operária, morto em 1950.______________________________________________________________________________(1)
COMO DIRIAM OS AMERICANOS, FAÇAM O QUE EU DIGO, NÃO FAÇAM O QUE EU FAÇO