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Não esqueçamos

Desperto a animosidade de alguns colegas, mesmo de alguns amigos, sempre que manifesto minha impressão sobre a sociedade norte-americana. Tenho-a como a pior das sociedades contemporâneas, pela importância que a riqueza material atribui aos que a detêm. Tudo lá, é apenas parte de um ser indigente, apesar de poderoso, chamado mercado. Onde tudo se pode vender, tudo se pode comprar. Desde alimentos e bens que servem às necessidades materiais, até mandatos e opiniões. Ou seja, a vontade - esse poderoso fator de diferenciação entre animais de espécies diferentes, sociedade e fauna - também é vendida e comprada, ao sabor dos interesses pura e exclusivamente materiais. O preço substituindo o valor moral ético, político. Ou a política sendo submetida à sua pior forma de corrupção. Lamento dizê-lo: a realidade, dos nossos dias em especial, parece oferecer-me ainda mais razões para o conceito que alguns dizem preconceituoso. Sei que lá se pratica talvez a medicina mais moderna do Planeta. Sei, também, que lá se pode morrer na porta de um hospital, porque ao moribundo faltam dólares para comprar os serviços de saúde. Não me escapa ao conhecimento estar lá grande parte - se não a maior delas - de intelectuais de esquerda lúcidos, tanto mais quanto mais se opõem à ordem vigente. Respeito-os, sobretudo, pela visão crítica e pela participação na vida social, na tentativa de mostrar aos seus compatrícios a perversidade das relações sociais a que se submetem. Há algo, porém, que desmente o propósito de tornar os Estados Unidos da América do Norte um modelo de democracia. Reduzo a uma frase o conceito baseado em prolongada observação: onde manda o dinheiro, é inviabilizada qualquer tentativa de construir uma sociedade igualitária. Talvez haja os que contestem tal afirmativa, se tomam como verdade a sentença desmentida pelo próprio autor, Francis Fukuyama. Nem a História acabou, nem morreram todos os que se sentem tocados pela desigualdade e desejam vê-la um dia totalmente erradicada da Terra. Pelo menos desse astro, cada dia mais ameaçado em sua sobrevivência. Diga-se, a bem da verdade, que o Homem prosseguiu sua caminhada e não perdeu de todo a consciência de que só ele pode alterar o rumo das coisas. Assim como as relações humanas baseadas no egoísmo e no materialismo mais animal que se conhece, construiu o mundo atual, ainda remanescem os que apostam na probabilidade de construir algo melhor. Uma sociedade em que a solidariedade, não a competição, seja o grande motivo de todos; em que a tolerância seja menos rara; em que o amor ao próximo chegue muito além da face hipocritamente indignada, da oração propositalmente desviada, a decisão se transforme em benefício coletivo, não em ganho individual. O mundo atual, em período infausto como o que, contemporâneos, convivemos, desmente todos os fundamentos dos seus supostos donos. Como admitir que a educação norte-americana, para ficar nesse único exemplo, é digna do respeito e da reverência de outras nações, quando uma figura perversa e destruidora como Donald Trump, chega ao poder? Como admitir que a manutenção de amplas porções da superfície terrestre e suas populações sejam abaladas pelos conflitos armados que ceifam a vida de tantos seres humanos? No entanto, governantes como o Presidente norte-americano e seus cúmplices não desviam um só segundo de suas vidas a refletir sobre isso, tamanhas sua ganância, sua insensatez e tão perversos os seus propósitos. Olhe-se o mapa-mundi, logo se constatará que onde chega o interesse dos belicistas, chegam a morte, a degradação e o infortúnio. A faixa de Gaza, a república do Congo, o Sudão, o Haiti, a Ucrânia deveriam bastar aos pacifistas do Mundo, como prova de que nada ali é obra do acaso. Arrisco dizer que em nenhum outro lugar do Planeta as coisas têm dado tão certo para os que se aproveitam da guerra e comemora m a morte de tantos dos que, da forma mais hipócrita, são considerados semelhantes. Antes que me esqueça: quantos países registram tantas mortes de presidentes, quanto s Estados Unidos da América do Norte?

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