Vivemos em um mundo em permanente mudança. Não há um só dia em que algo não mude, em todo lugar. As alterações da natureza, em geral lentas, ajudam a caracterizar períodos geológicos e se medem em escala muito maior que as outras mudanças. As mudanças sociais, quando mais amplas, correspondem às diversas fases da História do Homem. Ilude-se, porém, quem pensa exclusivas das coisas e dos seres animados as mudanças operadas ao longo das eras geológicas e dos períodos históricos. Ideias e conceitos também mudam. O momento histórico, aqui e alhures, revela mudanças não apenas nos aspectos econômicos, na tecnologia e na aparência das coisas e pessoas. Vejam-se, por exemplo, os costumes e os conceitos. Às vezes, uma coisa tendo a ver com a outra. Fala-se, no Brasil destes tempos difíceis, de certa pauta de costumes. Supostamente oposta à pauta econômica ou política, na verdade ela serve para justificar a troca de orientação na tomada de decisões que interessam à coletividade. E, por isso, é difícil encontrar algo que seja mais político que o debate sobre os costumes e, ao fim e ao cabo, os costumes que desejamos ver subjacentes às decisões. Deu-se de chamar pessoas de bem, a todas aquelas que rezam pelo nosso mesmo credo, não as que agem orientadas pela ética do bem comum, dotadas de alto espírito de solidariedade e inspiradas pelo amor ao próximo. É um conceito em mutação, portanto. Os de bem (pressurosos em dispor cada dia mais de muitos bens) podem praticar toda sorte de delitos, porque a classificação recebida, em geral de seus pares ou seguidores, dá outro significado à expressão. Ainda agora, conhece-se mais sobre a atuação do ex-Presidente da República, tão infensa ao cumprimento da Lei que contra ele foi feita a indiciação, já levada à Procuradoria-Geral da República. Depois das investigações características do devido processo legal, a Polícia Federal elencou as atividades suspeitas dele e do grupo que lhe presta culto e cumplicidade. Lá se vão encontrar desde crimes atribuíveis a muitas de outras autoridades que já passaram por altos postos na República, quanto outros, marcados pelo ineditismo. Quem se lembra, por exemplo, de outro ex-Presidente que se tenha envolvido na falsificação de documento oficial? Pois a vacinação contra a covid-19 ensejou a prática delituosa dos indiciados de hoje, que amanhã a maioria dos brasileiros quer ver denunciados. E julgados, cumpridas todas as formalidades da Lei. Onde e quando se soube de algum mandatário que tentou apropriar-se de joias e outros bens do patrimônio da República, utilizando até os bons (?!) serviços de membros das forças armadas? Transportes, também. Num certo sentido, fica mais fácil identificar a razão do atentado terrorista de 08 de janeiro de 2023 - em boa e oportuna hora frustrado. Dizer que não foi a tentativa de um golpe de estado é outra prova de que os conceitos mudam também. Mudanças não houve, porém, na forma como certos indivíduos buscam enriquecer ou subir na vida. Olhem-se as folhas corridas deles!
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