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Morte que imortaliza

Mais que qualquer outra circunstância ou situação, a morte é que imortaliza. E o faz pelo seu inverso, como a dar prova da organização dialética do Universo. Esse espaço do qual não se conhece o início e o fim, nem dizer de que tamanho é. Os avanços científicos, às vezes aparentando improbabilidade, nem por isso responderam às mais profundas indagações do Homem. Este, também, repositório de universos particulares ainda por desvendar. Diariamente, vê-se o fim do Universo, que logo tem reposta até com a multiplicação, na agregação de novos universos particulares. A repercussão da morte de Diego Armando Maradona talvez seja, neste momento em que milhões de outras mortes ocorrem por força de um vírus, exemplo loquaz do convívio e rompimento entre os dois níveis. Da arte por ele praticada sempre à esquerda, porque a outra perna era apenas apoio, todos sabemos. De quanto seu talento era capaz, mesmo na eventual derrota os adversários o reconheciam. Isso explica as manifestações de que os meios de comunicação nos põem a par. Mesmo no resultado desfavorável de uma partida de futebol, Dieguito não saía de campo derrotado. À frente sempre havia a oportunidade de repetir atuação meritória, estimulante, solidária. Por isso, o cidadão Diego Armando Maradona chegou à construção mitológica justificada em igreja reverencial dos que dele desejam sempre estar próximos. Alguém disse que o único erro do ex-campeão do mundo de Futebol terá sido a circunstância de ser humano, mais do que o esperado do bípede dito inteligente. Não foi nos campos de futebol espalhados pelo Mundo que Maradona encontrou a derrota. Dentro das quatro linhas, Dieguito juntou com seus pés (uma das mãos uma vez ajudando) a humanidade de Carlitos, a ciência de Newton, a filosofia de Nietzsche. Fora dos estádios, mostrou como é possível resistir à sedução dos que desdenham de suas origens e entregam a própria vida à exploração que faz mais fácil - ainda que injusta e oprobriosa – a vida dos exploradores. Essa partida Diego Armando Maradona perdeu. Na perda, ganhou a imortalidade.

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