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Morte como prêmio ou terrina de farelo

Em meio ao agravamento da crise sanitária, duas autoridades públicas entregam-se desavergonhadamente à disputa eleitoral. Considerar política a troca de ironias, insultos e acusações entre o governador paulista e o Presidente da República é, no mínimo, fingir ignorância a propósito de tudo quanto a discussão embute. Ex-aliados, o distanciamento dos dois se deu não pelas razões expostas pelos cientistas e profissionais da saúde empenhados no combate à covid-19. O que significa dizer procederem ambos do mesmo saco. A farofa de um é a mesma do outro. Há muito mais convergências que diferenças entre eles, quatro olhos voltados para os caminhos que podem manter ou levar à rampa do Planalto. Não se trata de uma rampa qualquer, como as que se veem em muitos portos, Brasil a dentro, a fora também. Nem se pode dizer, a bem da verdade, ser essa a rampa por eles merecida. Os dois rampeiros brindam a população com espetáculo que não se poderia chamar de deprimente e agressivo a valores fundados na dignidade da pessoa humana, sem o risco de os estar elogiando. Os peixes e suas águas, túrbidas para eles será sempre melhor. Tem-se testemunhado, desde que a covid-19 desembarcou entre nós, disputa feroz pela Presidência da República, em 2022. Pouco importa a um e ao outro dos concorrentes, se dia-a-dia cresce o número de mortes causadas pelo vírus. Não se diga ser esse indigno embate uma novidade, pois as divergências aparentes vêm do momento em que os envolvidos perceberam a oportunidade do exercício do poder, um prolongando o mandato; outro, elevando-o a posto mais alto na estrutura político-administrativa do País. Qualquer que seja o caso, o desdém votado ao interesse público corresponde à fúria e à pertinácia em direção a um objetivo em nenhum momento benéfico à população. Do Presidente da República sabe-se quanto lhe agrada o clima de desentendimento, desunião, ódio que ele sem muito esforço conseguiu desenhar para o País. Falto de condições que o levassem a mais que a chefia de segurança de um gigantesco lupanar de terceira categoria, ele compensa as qualidades escassas pela agressão aos concorrentes, a que nem a Constituição que jurou cumprir estabelece limites. O outro, jeitoso e engomadinho, revela-se sorrateiro, a esconder nos punhos rendados o punhal com que ajuda a assassinar a democracia. Ao fim e ao cabo, duas vocações convergentes, a que a morte alheia assiste e premia. Pior que tudo é observar o ambiente mais amplo e verificar quanto está longe o momento de identificar quem possa concorrer em condições paritárias com essas duas malignas figuras de nossa política. Não que se pretenda focar em pessoas a disputa, mas em propostas capazes de fazer avançar a democracia e seguir a trilha da justiça social. Tais propostas inexistem, como a eleição para a Presidência das duas Casas do Parlamento o evidencia. Sequer será sensato mencionar a oposição, pelo simples fato de que esta se derreteu ao longo do processo, com o que se abre caminho para, no máximo, uma candidatura grotesca, como a do apresentador Luciano Huck ou outro de igual índole e de iguais interesses. Se um país que precisa de heróis é infeliz, mais infeliz ainda é o que nem de bons homens públicos dispõe. Obviamente, há exceções. Estas, porém, não se dão bem com a lama. Têm medo de terminar diante de farta terrina de farelo.


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