Prolongado exercício magisterial permitiu-me dar atenção ao que se chama Processo Decisório, de resto título de disciplina que logrei ministrar no Curso de Administração da Universidade Federal do Amazonas. Longo exercício profissional em entidades públicas e privadas serviu-me a aprendizado de que me não afastarei até o último dos meus dias. O que aprendi e tentei mostrar às sucessivas turmas do Curso, serve à apreciação dos fatos de que sou contemporâneo. Como vejo a Administração servida pelo conhecimento em várias outras áreas da Ciência, valorizo-a como aplicação de outros ramos científicos, em especial àqueles que lidam diretamente com o ser humano. Porque é no âmbito das Ciências Sociais que se encontra a Administração, a despeito de isso contrariar boa parte de pseudoestudiosos que pretendem resolver com números, quadros e índices problemas humanos, aferro-me à convicção de que o fenômeno administrativo é um fenômeno social. Estabelecido o contexto das organização, qualquer que seja ela, sempre tive claro o fato de a decisão ser apenas um momento - talvez o menos importante - de todo um processo em que se busca reduzir os riscos, traduzidos em consequências das decisões tomadas. Há objetivos a serem alcançados, há meios capazes de nos levar a esses objetivos, tanto quanto há constrangimentos a serem analisados. Essa busca de objetivos, certas crenças esotéricas qualificam como missões. Um certo toque messiânico a inspirar os administradores. Admito que se trata mais de retórica que de vocação missionária, acostumado que sou, e atento que sempre serei, às palavras e ações proferidas e efetivadas pelos agentes. Neste caso, como em todos os que envolvem a conduta humana, a ação caracteriza-se pelo fazer, ou pelo não-fazer. Assim, podem-se alcançar objetivos por ação ou omissão. Ambas resultam de decisão, tanto que a pior destas sempre será a segunda. Mas ela ocorre, como estamos fartos de saber. Quando um ex-auxiliar do Presidente da República diz ver cumprida sua missão, mesmo se a covid-19 multiplicou exponencialmente o número de mortes, comparativamente à sua ascensão ao posto maior da Saúde Nacional, sou tomado de pavor. Talvez servidor público convicto, não vejo admissível ou tolerável ver um servidor público, vista a roupa profissional que vestir, ser pago para multiplicar mortes dentre os que pagam seus salários. Pior, depois justificar a própria conduta e a de terceiros a quem confessa cega obediência, como parceria em missão oficial. Foi, no entanto, o que fez o ex-sinistro Eduardo Pazuello, diante de milhões de telespectadores, todos contribuintes. O titular da pasta da Saúde com mais longa permanência durante a pandemia poderia ao menos aproximar-se da verdade, se dissesse ter dado motivo à sua saída do posto civil o fato de ter sido sua omissão demasiado comprida. Ele disse, porém, ter saído com a consciência de missão cumprida. Faltam poucos dias para o Brasil alcançar a marca dos 500 mil mortos.
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Gostei muito do teu artigo, José. Certas maneiras de não administrar ou de administrar mau são verdadeiros Pesadelos. Há pessoas incapazes para cumprir missões que são do interesse da sociedade do um todo; essas pessoas jamais desempenhariam uma missão messiânica, que exige empatia, capacidade de liderança, conhecimento, ideal e compromisso ético e humanístico, em certos casos, transcendentais. Orlando Sampaio Silva