Por maior que tenha sido a surpresa decorrente do resultado do primeiro turno eleitoral na Argentina, nada indica facilidade de previsão do turno decisivo. Em 16 de novembro é que a eleição presidencial será finalmente decidida. Por enquanto, nenhum dos concorrentes antípodas pode ostentar segura euforia. Se o autoproclamado anarcocapitalista Javier Milei afirma os números como evidência de que 2/3 dos argentinos desaprovam Sérgio Massa, a afirmativa vale também contra ele mesmo. No terço dos eleitores que não votaram neles está registrada a preferência pelos outros três concorrentes. Com uma desvantagem inicial para o histriônico candidato da extrema direita - seus seguidores mostraram-se mais escassos do que as previsões, enquanto a votação do atual Ministro da Fazenda superou as expectativas geradas pelas sondagens pré-eleição. Os votos de Bullrich, por mais numerosos que os dos outros candidatos, serão disputados palmo a palmo, em terreno minado pela mentira e pelo poder de sedução do uso da máquina pública. Milei, fiel às práticas preferidas pela extrema direita, não deixará de produzir e estimular o que todos sabemos a respeito de seus companheiros, não só na Argentina. Não é outra a razão pela qual um dos filhos do zero-zero, o zero-dois, tenta mostrar prestígio no país vizinho. Nem pode ser desprezada a forma como o deputado federal (PL) de São Paulo foi rejeitado, na tentativa de emprestar apoio ao lamentável candidato. É necessário jogar com a hipótese de que os eleitores de lá têm muito mais apego à democracia que os do Brasil. Se o maior exemplo disso está na forma como foram tratados os torturadores do regime autoritário e o papel influente de movimentos populares, como o Madres de Mayo, o resultado do primeiro turno serve como uma espécie da valorização dada à democracia. Mesmo se aquele país enfrenta problemas econômicos graves, a maioria (ainda não absoluta) do eleitorado mostra-se disposta a apreciar mais os rumos políticos do país, que o combate à inflação, ao ponto de abandonar o ideário democrático Em suma,os argentinos veem a sociedade como o universo de que o mercado e suas leis são apenas ínfimo espaço. Talvez porque os economistas de lá sabem quão mais fácil é vencer a inflação e tantos outros males (como o da aversão a programas de imunização pela vacina), sob a democracia. A experiência de nossos irmãos argentinos vai-se mostrando produtiva e gerando respostas que só eles são capazes de dar. Afinal, os problemas deles deles são, e sobre tais problemas eles serão os mais capazes de refletir e superar. À frente, Argentina!
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