Mentira
É compreensível o uso da mentira como instrumento e estratégia de governos, mundo afora. Apegados a valores e crenças que a realidade social teima em recusar, os governantes veem a impossibilidade de impor suas decisões, a não ser com o sacrifício da verdade. Muitos analistas e observadores afirmam que na guerra a primeira vítima é a verdade. Para grande número de políticos, a arena política não é mais que um espaço onde podem por à mostra sua beligerância e seu ódio. Então, nada lhes parece tão propício à manifestação do que julgam suas virtudes, que um ambiente conflituoso, bélico, odiento.
Pensar que apenas Donald Trump se ajusta ao figurino acima esboçado seria flagrante equívoco. Não apenas porque a maneira tosca de sua visão de mundo chega a seduzir outros colegas e torná-los lacaios. Além desses, outros tornaram-se fiéis fanáticos da religião desta obscura fase histórica, o mercado. Nesse lugar onde tudo se vende e tudo se compra; mata-se por tudo e também por nada se mata – como justificar a pandemia permanente e crescente da desigualdade? Essa tem sido, no entanto, a grande obra arquitetada, imposta e mantida pelo neoliberalismo. À custa, sabe qualquer criança de onze anos, da fome, da doença, da devastação das florestas, da poluição de rios e oceanos, do desemprego, do analfabetismo, da violência. Em suma, de políticas voltadas para a morte, aquilo tão bem e oportunamente chamado necropolítica.