à marieta,
menina-cabocla do canto de thiago de mello
marieta, criança barriguda, desnutrida
marieta, menina-mulher de ventre pejado
marieta, mãe infante
corre o rio que inunda a floresta
corre a vida que é sangue
morre o homem que lutou com o rio
sobrevive o explorador dessa luta
marieta, filha de marieta
amazonas, cordão umbilical da verde-mata
vidas que se nutrem das águas do rio-mar
marieta, calada, taciturna
marieta, criança que não conhece a alegria
caudal imenso encharcando o chão
do mundo-mágico
lágrimas contidas
águas em pororocas
vida, silêncio que contém tanto amor
amor que não apenas gesto, lamento, pranto
colosso que se derrama na terra
gigante que se afoga no mar
mãos pequeninas que se dão
mãos (ma)ternas que as protegem
olhos que cintilam
vórtices de emoção
marieta, enigma de triste semblante
canto do poeta
eco de vida a repetir-se
em ouvidos distantes
grito lancinante: mudo
sinfonia da floresta: húmida
que ecoa na caatinga: seca
que sobe os morros da cidade: sujas
cantando, chorando, clamando:
eu, criança, não sei sorrir!...
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*Paulo Emílio Matos Martins
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