28 de agosto de 1981,
Vivíamos sob a ditadura militar. No governo do Amazonas, José Lindoso.
Eu tinha 15 anos e desde 1980 já vinha participando da luta política de resistência democrática.
No início da campanha da meia-passagem reconstruímos a União dos Estudantes Secundaristas do Amazonas - UESA.
Em 1981, a meia-passagem era por empresa de ônibus. O estudante comprava os passes estudantis para ser usado em determinada empresa e não podia passar em outra.
Resolvemos iniciar a campanha do passe-único.
No dia 28 de agosto de 1981, marcamos um ato público na praça São Sebastião. Éramos, secundaristas e universitários, cerca de 100 estudantes. As polícias militar e civil cercaram a praça, prenderam o carro-som (era um passat do Arthur Virgílio Neto, ex-prefeito de Manaus). Fomos para frente da Igreja de São Sebastião. Sandro Baçal de Oliveira (professor da UFAM, falecido) sobe nas escadas da igreja e começa a discursar, com o público repetindo.
Não chegou a cinco minutos do discurso. A polícia partiu pra cima, batendo, invadiu a igreja, com cassetetes e armas, tiros foram disparados dentro do templo. Ao sair correndo da igreja, levantei os braços. Era um garoto magro e alto. A polícia não quis saber: começaram a me espancar com cassetetes. Corri. Já quase livre, na rua 10 de julho, ao lado do Teatro Amazonas, ouvi o comando: atira nele. Parei e policiais me atiraram num camburão. Comigo, Antonio Pelizzetti (hoje, bioquímico. Mora em Boa Vista - RR), Marivon Barbosa e Mara, Ociney (já falecido), o jornalista Montezuma, uma criança de aproximadamente 11 anos e o Sávio, um guerreiro e meu amigo inseparável (Sávio já se foi). Num momento que abriram o camburão, o Senador Evandro Carreira (já falecido) gritava para não baterem "nas crianças". Puxou o Pelizzetti do camburão. Jogaram o Senador em outra viatura. Chegamos na DOPS. Nos mandaram encostar numa parede. O senador Evandro Carreira chega, nervoso, e partiu para a sala do delegado, comigo, o Vicente Filizzola, hoje presidente da Força Sindical no Amazonas, e outros companheiros presos. Evandro colocou o dedo na cara do delegado e disse: seu poltrão, você bate em crianças, mas venha bater num homem. E foi tirando o paletó. Filizzola Interveio pedindo calma. O delegado Adelson Melo (já falecido) ficou sem um pingo de sangue na cara.
Fomos liberados, depois de fichados na DOPS.
João Pedro Gonçalves publicará um livro este ano onde conta mais detalhes sobre esse acontecimento, inclusive os fatos envolvendo o Fábio Lucena.
Lúcio Carril
Sociólogo
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