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Maledicência e verdade

Um novo drama entretém boa parte da população brasileira. A revelar, em primeiro lugar, o custo pago por quem se faz notável. Porque um apresentador de televisão passou apenas 20 dias incluído na lista (como se deu de chamar a fila) de transplantes cardíacos a transplantado. Felizmente, em cirurgia plenamente exitosa, com prognóstico favorável. Não é de alívio, porém, o sentimento de muitos compatrícios do apresentador. Ao contrário, a - esperamos sinceramente - recuperação total de Faustão desencadeou nova preocupação, dadas certas peculiaridades que resultam da generalização da desconfiança dos brasileiros. São quase 400 os candidatos que integram a lista, elaborada segundo modelo, programa e algoritmos que à maioria é dado desconhecer. Mesmo aos médicos chamados a opinar tem sido difícil tornar suficientes as informações prestadas. Ou por que mencionem siglas e nomes próprios do jargão profissional, ou pela alegação de que não lhes cabe investigar ou contrariar os critérios de escolha dos beneficiários do sofisticado tratamento. Em torno do assunto, o clima determinado pela conduta de certos profissionais da Medicina, a que o CFM e diversos regionais do Conselho, os CRMs emprestaram patrocínio, estímulo e apoio, durante a pandemia. Ademais, o ainda não suficiente esclarecimento da conduta de equipes medicas vinculadas à ação de Adélio Bispo, em Juiz-de-Fora, setembro de 2018. Que a maledicência tenha na apuração e divulgação dos fatos reais, como eles aconteceram mesmo, a única e plausível e aceitável resposta. Isso foi dito, não necessariamente com estas mesmas palavras, por Josias de Souza. Não se atribua ao paciente beneficiário do transplante, nem à sua família, qualquer outra responsabilidade. O Direito Penal talvez acolhesse o interesse deles - o paciente e os seus familiares - no capítulo do estado de necessidade. Também é demasiada ousadia afirmar que houve descumprimento de alguma das exigências que movimentam a lista dos candidatos ao transplante cardíaco. Não há como ignorar, entretanto, a quanto nos tem levado a extrema desigualdade com a qual convivemos. E nem todos se sentem incomodados por isso, quando não ocorre de fazerem questão de que se assim foi e é, melhor que sempre assim seja. Vem desse fenômeno a naturalização dos absurdos agressivos aos mais comezinhos princípios de solidariedade, frequentemente testemunhados mesmo nas comunidades dos animais que a arrogância humana chama inferiores. Ademais, quando à posse de riqueza material é entregue a solução de todos os problemas, esses absurdos são naturalizados e já não têm qualquer peso na conduta das pessoas, sobretudo nas que pensam dispor do poder a seu talante e segundo suas próprias vontades e interesses. Josias Souza tem razão: nada melhor que a verdade, límpida, transparente e verificável, para livrar a sociedade humana de toda maledicência.

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