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Má fé e incompetência


As relações humanas podem envolver pessoas ou instituições. A facilidade em identificar os protagonistas, as formas de relacionamento e o produto delas é maior quando se trata de relações interpessoais. Quando as relações se dão de forma coletiva, mais difícil fica esclarecer muitos dos acontecimentos que chamam a atenção - dos estudiosos e das autoridades, porque quase sempre acabam por incorrer em agressões à ordem jurídica. Talvez esta seja uma das razões por que os delinquentes preferem atuar em comum com multiplicidade de parceiros. O grupo em si passa a desempenhar a função de diluente, nele perdendo-se a oportunidade de estabelecer a verdade e averiguar com alto grau de precisão o quanto a ação criminosa lesou terceiros. É disso que tratam o sigilo bancário, as off-shores e muitas outras atividades ilícitas, não obstante o esforço por fazê-los todos acobertados pela Lei. No desgoverno que encerrou dia 31 de dezembro de 2022, tivemos de tudo. Caso específico e até certo ponto surpreendente, é vir a cobertura dessas ações danosas ao interesse público de agentes que teriam por força de lei o dever de investigar, processar e punir os delinquentes. Não está ligado a outra coisa o interesse reiteradamente manifesto do próprio ex-Presidente da República em manter sob sua estrita e curta supervisão toda a Polícia Federal. Também a frequência com que aquela otoridade impôs sigilo à documentação oficial é peça fundamental das políticas criminosas da época. Se faltava à maioria dos membros do desgoverno anterior a menor competência para dirigir o País, a essa particularidade há de se acrescentar a má fé de que são imbuídos muitos dos que compunham o séquito presidencial. Que o ex-capitão excluído das forças armadas e depois tornado inelegível não tinha um só requisito para chegar à Presidência, nem vale a pena discutir. Se chegasse a chefe ou supervisor da segurança de uma casa de prostituição do baixo meretrício, já teria ultrapassado o que se conhece em Administração como limite da competência. Dispensável dizer que as limitações de toda ordem - mentais, intelectuais, políticas, sociais etc. - por ele ostentadas não poderiam levar o País à situação em que a encontrou Lula. Houvesse no ex-Presidente alguma boa intenção, porém, as pessoas que o cercariam seriam outras, não as que o noticiário mostra para exemplificar quanto o homem é produto do seu meio. E o quanto produz esse próprio meio. É óbvio que nem todos os que em algum momento acreditavam em suas boas intenções (ainda que contra as evidências e as perspectivas que a vida pregressa do líder indicavam) participavam integralmente de seus propósitos (quais?), nem lhes faltava o discernimento escasso no superior. Basta lembrar que os generais Santos Cruz e Rego Barros deixaram o barco precocemente. O mesmo ocorreu com o almirante Barros Torres, que não deixou prosperar a matança desejada e auxiliada pelo ex-Presidente. Outro colega de Barros Torres vê-se agora envolvido no tráfico de joias, sem que tenha prestado mais que um favor ao chefe. Admita-se que o almirante Bento Albuquerque não sabia dos aspectos legais envolvidos no favor. Ou que, por obediência cega (manda quem pode, obedece quem tem juízo, disse um dos çábios - com sua permissão, Elio Gaspari - do entorno presidencial), acabou por revelar sua ignorância quanto às leis do País de que era ministro. Quando, porém, a incompetência faz dobradinha (não é, neste caso, rachadinha) com a má intenção, dá no que vem dando. E mais dará...

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