Liderança como retrato

Entrevista recente do senador Ciro Nogueira à revista Veja dá bem a tônica da direita brasileira. O parlamentar, ora licenciado para secretariar o PL, repete nas folhas do periódico o que dizem os mentirosos que se utilizam das redes antissociais para disseminar mentiras, inventar situações, divulgar falácias. Nada de surpreendente, pelo menos para os que têm alguma informação sobre os acontecimentos que constituem a realidade nacional. Imaginar que o Ministro Alexandre de Moraes extrapola dos seus deveres constitucionais é simples e ostensiva revelação de ignorância, se não quisermos qualificar tal percepção de coisa pior. Ciro alega estarem sendo desrespeitados princípios constitucionais, porque o magistrado atende às recomendações do Ministério Público e mantém processos contra os agressores da democracia, dentro dos padrões do que se conhece como devido processo legal. Algo muito diferente do governo a que serviu o hoje secretário de Valdemar Costa Neto. Não bastasse a série de mentiras e interpretações descabidas do senador licenciado, ele quase põe auréola sobre a cabeça dos invasores do Planalto, do Congresso e do STF, em 8 de janeiro de 2023. Tem uma só razão, o palavrório nocivo de Ciro Nogueira – o de mostrar a qualidade do grupo a que pertence, em tudo e por tudo correspondente à qualidade do líder que ele mesmo nomeia e ao qual presta adoração. O ex-capitão hoje tornado inelegível realmente lidera boa parte dos assemelhados ao senador, ainda que se saiba de bom número dos seguidores que opta segundo interesses que nada têm a ver com os interesses da maioria dos brasileiros. Porque ainda não conseguiram ser mais numerosos que os cidadãos de bem os membros das milícias, os infratores das leis de proteção ambiental, os contrabandistas de joias e outros artigos, os refratários ao pagamento de impostos, os agressores à mão armada, os que atentam contra as minorias e alimentam o desejo de promover o genocídio dos povos indígenas. Curioso é encontrar na mesma edição da Veja farto noticiário sobre a quantidade de recursos devidas pelos praticantes de crimes contra a natureza, cuja motivação foi amplamente defendida e divulgada pelo ex-Presidente da República. As páginas em que a realidade é mostrada são seguidas pelas palavras irresponsáveis do entrevistado.