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Liberdade e sociedade

Foto do escritor: Professor SeráficoProfessor Seráfico

Emprestar à liberdade individual caráter absoluto corresponde ao reconhecimento e à consagração do que se tem chamado darwinismo social. Onde a relação é produto da natureza, prevalece a cadeia alimentar, fundamento do equilíbrio desejado. As diferenças, lá, quando ameaçam o equilíbrio e a reprodução das espécies, encontram na sociedade humana, nos conhecimentos e técnicas por ela produzidos, as respostas desejadas. Tudo isso, porque seres humanos, raramente isolados, são agentes do processo civilizatório. Tanto quanto a sociedade é obra do conjunto dos homens, é da ação destes que se alimenta tal processo. Cada passo civilizatório, se tem trajetória sujeita a idas-e-vindas, vai construindo relações cujo rastro é deixado, uma geração após a outra. O fato é que das mais importantes invenções humanas, a sociedade se impõe nos tempos modernos. Com todas as restrições à liberdade absoluta, quanto com as vantagens oferecidas pela solidariedade. Convém lembrar aqui a fábula dos porcos-espinhos, pelo que ajuda a compreender os benefícios da solidariedade sobre a competição. Sendo assim, o conceito de liberdade individual não pode ignorar, muito menos diminuir, a prevalência do interesse coletivo. Em suma, sem oprimir os indivíduos, prestigiar a sociedade. Até porque esta é criação da comunidade dos indivíduos. E, já se sabe, não há humanidade fora do grupamento humano. Diferente dos outros animais, o bípede que se considera inteligente torna-se humano graças ao convívio com seus semelhantes, se não iguais. As restrições à liberdade, como todas as demais regras que balizam a conduta social, erigem como destinatários todos os membros da comunidade a que se aplicam. Em linguagem talvez mais compreensível, ainda que menos refinada, perde-se parte para não perder o todo. É nesse contexto que se pode analisar as pretensas defesas da liberdade individual, quase todas elas pondo-se de costas para as situações até aqui apresentadas. Afinal, não podemos ser piores que um porco-espinho. Observe-se, neste trágico momento que afeta a sociedade brasileira, a relação entre a pregação antivacina e a simpatia declarada pelo nazismo. Uma coisa tem a ver com a outra, pelo que comungam da mesma origem - o desprezo pelo ser humano e a orientação por valores que resultaram, no mínimo, em mais de seis milhões de judeus mortos pelos nazistas. O fato de outros (Joseph Stalin sendo um deles) terem cometido crimes semelhantes não autoriza a repetição, já não bastassem as realidades diferentes, comparando-se o presente com o passado. Ao contrário, o avanço das condições de sobrevivência e as conquistas científicas e tecnológicas merecem ser acompanhadas por igual progresso nas consideração ética das ações humanas. Registrar, condenar e conhecer os males por que passou a sociedade humana não deve pretextar a repetição do passado. Antes, deve servir para avaliarmos quanto isso faria mal - aos indivíduos e a todos os que com ele partilham o mesmo Planeta. Sempre que se sacrifica essa equação (sociedade/ser humano), a minoria desfruta de liberdade em excesso, enquanto o outro lado, em soberba maioria, é privado da liberdade. Tem sido assim...assim será, até que todos se revelem, realmente, humanos.


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