Lúcifer, Gláuber e Capone

O Brasil ameaça transformar-se em uma nova Cuba. Não a ilha dos tempos pós-revolucionários, mas a que era (des) governada por Fulgêncio Batista. Derrubado pelos barbudos que pelejaram na Sierra Maestra, o lacaio dos Estados Unidos da América do Norte não era mais que o feitor do quintal da nação mais belicosa e poderosa do Mundo, até que Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos desfilassem sob o entusiasmo popular pelas ruas principais de Havana. Ali findava a submissão da pequena e heroica ilha, uma espécie de reserva dos milionários norte-americanos, que para lá iam em busca de aventuras sexuais e jogatina. Pois agora, prossegue a trama urdida pelos que pretendem fazer aqui o que Batista fez lá. Curiosamente, como a dar o toque tupininquim à iniciativa e revelar nossa absurda capacidade de misturar óleo e água, a trama faz o casamento dos viciados em jogo com os exploradores dos incautos sob a capa de alguma das muitas seitas que, a pretexto de louvar o Senhor, dedicam-se a enriquecer. Pelo que se sabe, a negociação (houve tempos em que se chamava a isso negociata) inclui a aprovação do projeto que pretende transformar o Brasil em imenso cassino de jogos de azar, em troca da isenção de imposto municipal para os estabelecimentos comerciais por muitos considerados templos religiosos. Sabe-se que partidos políticos e parlamentos não são lugares onde se devam procurar anjos. Nem para isso eles existem. Também se sabe de um certo anjo que, por práticas inaceitáveis no Paraíso, de lá foi mandado embora. Que viesse para a Terra, atenazar a vida de todos, em especial dos que dele eram e são diferentes. Até hoje seu nome é conhecido; sua obra, também. Com a jogatina prospera toda sorte de vício, desde a sonegação de impostos até a execução dos perdedores de sempre, porque para isso as milicias foram inventadas. Nas terras tão ensolaradas do nosso território, mesmo sem Gláuber Rocha, Deus e o diabo dão jeito de se encontrar. Com os resultados que já se conhecem. Al Capone não deixa mentir.