Já nem me surpreende ver pessoas que aplaudiam com entusiasmo as medidas destinadas a fazer a boiada passar reclamando das cinzas que cobrem Manaus e se espalham pelo Brasil. Não seria delas que eu poderia esperar algo diferente, quando ainda ecoa nos meus ouvidos a confissão antes ouvida: quem não puxa saco um dia puxará carroça, disse certa vez para quem quisesse ouvir, um representante do que há de mais vergonhoso na sociedade brasileira. Igual juízo pode ser feito dos que hoje reclamam e protestam porque nunca o Brasil registrou tantos incêndios florestais quanto hoje. Observe-se com atenção, e logo se encontrará no meio deles, se não com aparente indignação, muitos dos que desejam reduzir o tamanho do Estado. Querem-no enxuto, para que possam, avançando ainda mais na captura do mecanismo oficial, transformá-lo pura e simplesmente em gendarme dos seus próprios interesses e algozes dos que ousarem tentar resistir às suas más índoles e vocações. Dentre eles, avultam os que financiam campanhas eleitorais, acumpliciam-se com os dilapidadores do Erário e depois fingem indignação diante da corrupção. Em regra, os portadores dos cenhos mais cerrados e os proclamadores de absoluta incorruptibilidade são os que mais concorrem para o cometimento de toda sorte de crime contra a ordem pública. Seja por corrupção, seja pelo ataque às instituições que zelam pelo estado democrático de Direito. Talvez nenhuma outra sociedade, mais corrupta ela se mostre (e não são poucas, nem seria previsível que onde o dinheiro pode tudo ocorresse diferente), reservaria a culpa a um só dos dois polos envolvidos nesse crime - o que corrompe e o corrompido, o sujeito ativo e o sujeito passivo do delito. No Brasil, como todos sabem, há corruptos tão certos de sua impunidade que sequer tentam ocultar sua participação. Em qualquer lugar, como se tem sabido em reuniões fartamente abastecidas de bons vinhos, bons salgadinhos e quem sabe mais que outros atrativos que desafiam as leis. Enquanto isso, as florestas são queimadas, às vezes - e não são poucas - com intenção criminosa, os rios são poluídos, as cidades feitas palco de uma corrida pela morte. E a boiada segue o destino dos que a pastoreiam.
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