Jamais comunista

Lideranças partidárias hão de entender o papel que desempenham não apenas como uma imposição de ordem burocrática. A própria natureza de suas atividades recomenda levar em conta, na análise e interpretação de fatos que digam respeito à organização por ela presidida, os aspectos políticos de que se revestem. Muitas vezes temos ouvido expressão aplicável nos negócios privados, nem por isso recomendável quando se trata de uma organização política. A lavagem da roupa suja, neste caso, não pode ficar entre quatro paredes. Talvez atenta a esse aspecto, Gleisi Hoffmann, a Presidente do Partido dos Trabalhadores disse com todas as palavras que seu partido sofreu ao longo do tempo, o aburguesamento de valores. Ou seja, essa foi a expressão usada para justificar o abandono de orientação e abordagem praticadas nos anos infantis do PT. O que muitos vêem como o descolamento da elite partidária das bases que animaram e conduziram Lula à criação do PT. A política de massas pouco a pouco foi perdendo substância, fenômeno possivelmente agravado depois que o partido chegou ao poder. O curioso é que nos primeiros anos o Partido dos Trabalhadores era criticado porque nele pareciam ter posição privilegiada intelectuais e artistas, em detrimento de trabalhadores. Uma aparente inversão de valores, usada como pretexto para considerar o PT um partido de esquerda. O resultado da recente eleição municipal, portanto, parece ter mexido com a cabeça de Gleisi, e de quantos mais, filiados ao partido que ela preside?

A rigor, a vinculação do Partido dos Trabalhadores ao socialismo parece um grande equívoco. Digo isso, e não vejo demérito nessa constatação. Pode-se aplicar ao PT o mesmo raciocínio usado por Patrick Tissier para justificar o lugar e a época em que surgiu a ZFM. O economista francês citou pelo menos três circunstâncias propícias a que Manaus fosse escolhida para sediar a Zona Franca: o regime político autoritário, o baixo sentimento de classe do proletariado local e o quase inexistente grau de resistência à ditadura. Do PT pode ser dito favorecido por vários fatores, para surgir em São Paulo. Arrisco dizer que o fato de estar na capital paulista o lugar em que os valores e práticas capitalistas mais avançaram, facilitou e estimulou a mobilização que teve como resultado a criação da entidade partidária. Nada demais, portanto, que de alguma forma tenha em seu DNA muitos dos valores que dão fôlego ao capitalismo. Melhora-lo, como se isso fosse possível, tem sido a obsessão de Lula. Jamais derrubá-lo. O irmão de Lula, membro do velho Partido Comunista Brasileiro, nunca obteve resposta positiva do líder sindical, várias vezes convidado a integrar o Partidão.